O uso de blocos de concreto para pavimentação em praças e calçadas está mudando a paisagem nos principais centros urbanos do País. A utilização deste sistema começou de forma artesanal na década de 1970, mas foi há cerca de 15 anos que passou a ser fabricado em larga escala com a adoção de novas tecnologias e com grande variedade de formatos. Os blocos de concreto intertravados têm o nome de ''paver''.
O novo conceito, entretanto, só foi melhor assimilado pela sociedade nos últimos três anos. A Associação Brasileira de Cimento Portland registrou um aumento de 90% no período - uma média de 30% ao ano -, um crescimento alcançado por poucos setores da economia atualmente. No Estado, foram executados 3,8 milhões de metros quadrados até o final de 2006. Para 2008, a estimativa é de que a utilização ultrapasse 6,5 milhões de metros. A média registrada por ano na Alemanha é de 40 milhões de metros quadrados.
Mas engana-se quem pensa que o principal motivo para esta performance seja a preocupação com o meio ambiente. O empresário Carlos Guilherme Ferreto, proprietário de fábrica de pré-moldados em Londrina, explica que até a metade da década passada a indústria de cimento no Brasil sofria oscilações de acordo com o comportamento da economia. ''O maior consumo de cimento se verifica no balcão do depósito e quando a economia não vai bem, a primeira coisa que a pessoa deixa de fazer é a reforma da casa''.
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Para reverter este processo, a indústria encomendou uma pesquisa a um instituto especializado dos Estados Unidos. A consultoria apontou que para haver maior estabilidade no consumo de cimento no Brasil seria necessário substituir as calçadas de pedras e lajotas por sistemas construídos à base de cimento. Outro aspecto decisivo citado pelo empresário foi a importação de máquinas e da tecnologia necessária para a fabricação dos blocos de concreto intertravado.
Foi nesta época que a empresa de Ferreto, a Blocomix, decidiu entrar neste mercado. A primeira etapa do trabalho consistia em mostrar as vantagens do novo produto para engenheiros e arquitetos, especialmente a de facilitar o acesso das pessoas às calçadas. ''Talvez o maior problema de circulação do público na cidade seja a acessibilidade às calçadas. É só observar as pessoas com carrinhos de bebês ou aquelas que usam cadeiras de rodas para se verificar as dificuldades''. As calçadas com blocos de concreto geralmente possuem uma linha demarcada para o deficiente visual caminhar.
O empresário afirma que o paver pode ser usado também em obras de infra-estrutura, áreas de lazer, projetos de urbanização e até em locais de movimentação de cargas superpesadas, como os pátios para contêineres nos portos. Os blocos já foram usados também na pavimentação de ruas em alguns condomínios fechados, onde se exige baixa velocidade de veículos. O uso não é recomendado em vias públicas de grande movimento por causa da trepidação. ''A fabricação do bloco de concreto segue normas específicas de resistência de acordo com as condições de uso'', explica.
O preço do produto ainda é mais caro que o do piso convencional Ferreto afirma que o consumidor pode gastar entre 15 a 20% a mais quando decide usar os blocos de concreto no lugar do piso convencional. Ele, porém, ressalva que não há como fazer comparações entre um e outro. ''É como comparar mamão com abacaxi. A calçada feita da forma convencional estará todinha trincada em um mês, enquanto o intertravado é um produto de alta resistência, com longa vida útil''.
Opção no calçamento da Praça Tomie Nakagawa
A Praça Tomie Nakagawa, no centro de Londrina (PR), é uma das maiores áreas contínuas da cidade pavimentada com os blocos de concreto intertravados. O projeto foi coordenada pela arquiteta Marize Cecato. A praça foi construída para as comemorações dos 100 anos da Imigração Japonesa no Brasil.
Marize explica que a concepção da praça teve a intenção de lembrar um jardim tradicional japonês, mas com uma linguagem moderna. Segundo ela, a equipe gastou a maior parte do tempo pesquisando o assunto. ''Nós precisávamos de um elemento fragmentado que agregasse valor através do tamanho, do formato e da variação de cores''.
Os blocos de concreto, em seis formatos diferentes, foram moldados especialmente para esta praça. ''A idéia consistiu em desenvolver um projeto a partir de um ponto de água e desenho em leque; a água significa vida no jardim japonês, ou seja, é a propagação da vida''.
A arquiteta aponta alguns vantagens para a utilização do paver: a permeabilidade do piso, a qualidade do produto e a rapidez no assentamento. E uma desvantagem, pelo menos para o Norte do Paraná, é que o material é de fácil encardimento, considerando o tipo de solo na região. Ela diz que em Curitiba, onde a terra é mais clara, as calçadas mais antigas estão sendo substituídas pelos blocos de concreto. ''Acredito que este é um sinalizador da possibilidade das prefeituras verificarem no paver, um potencial tecnológico, de baixo custo, de boa referência e durabilidade''.
Marize lembra, porém, que a substituição não pode acontecer de maneira indiscriminada. Ela afirma que o petit-pavet, por exemplo, também é uma boa alternativa do ponto de vista estético e deveria ser mantido no Calçadão do centro de Londrina. ''O petit-pavet traz mais liberdade de criação, e pela forma, textura e cores, oferece um recurso técnico e estético bem mais interessante''. O que falta em Londrina, segundo ela, é usar melhor os recursos de identificação regionais, assim como o pinheiro, em Curitiba, e o mapa do estado, em São Paulo.
Praticidade é a principal vantagem
A gerente administrativa Silvana Martins Cavicchioli precisava trocar o piso do estacionamento de sua empresa porque a calçada tradicional rachava com muita facilidade. Ela buscava um produto melhor, mais resistente e mais fácil de trabalhar em casos de reparos nas redes de água e esgosto.
Silvana avaliou que o paver atendia a essas necessidades e ainda conseguiu um orçamento 20% mais em conta. ‘O tempo de colocação foi bem menor do que se tivéssemos colocado pedreiros para refazer o piso de cimento’, afirma.
A gerente destaca que os benefícios do piso para o meio ambiente contribuíram na decisão de escolha do material. Os blocos de concreto intertravados facilitam o escoamento de pequenas quantidades de água.
O mestre de obras Dorival Lopes trabalha com este tipo de material há três anos e aponta que uma das vantagens é a praticidade. ‘Gasta-se menos tempo e ainda não fica aquela sujeira no asfalto’.
A montagem do piso com cerca de 300 metros quadrados, segundo Lopes, demorou uma semana. ‘No calçamento convencional levaríamos cerca de um mês, dependendo da contribuição do tempo.’