É cada vez mais comum a utilização de termos como ''ecologicamente correto'', ''prédio verde'', na divulgação de lançamentos do mercado imobiliário. Mas nem toda construção pode ser rotulada como ''verde'' se não obedecer critérios internacionais e se não tiver certificação para este fim. Estes empreendimentos usam apenas um ''verniz verde'', o chamado greenwashing, que está longe de ser realmente considerada uma obra sustentável.
O engenheiro Fernando de Barros, responsável técnico da Master Ambiental, que presta consultoria para empresas e órgãos públicos na área de licenciamento ambiental, explica que a construção civil ''é a atividade humana que mais causa impacto ambiental''. Estudos mostram que 75% de todos os recursos naturais são destinados à construção civil, 50% da energia elétrica é consumida na construção e na operação dos edifícios, 34% do consumo de água é atribuído às construções e 30% dos gases de efeito estufa são produzidos pela indústria da construção civil e seus insumos.
''Uma obra sustentável exige mudança de atitudes de parte dos construtores, instaladores e operários. É uma nova forma de projetar e executar, com uma grande preocupação com o meio ambiente'', diz Barros.
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Os critérios internacionais que definem se uma obra é sustentável indicam, por exemplo: um prédio verde deve consumir no mínimo 30% menos água e 30% menos energia elétrica do que um prédio comum. ''Um prédio verde gerencia com eficiência seus resíduos de construção civil e dá destinação adequada aos mesmos, bem como todos os resíduos gerados durante a operação comercial e após a ocupação do imóvel pronto'', acrescenta Barros.
Um prédio verde não pode deixar que, durante a obra, o solo chegue até a via pública e consequentemente aos bueiros e depois para os rios. Esta obra só pode utilizar madeira de reflorestamento ou de desmatamento legalizado. Todos os materiais utilizados devem causar o menor impacto ambiental possível. A tinta, por exemplo, não pode conter grande quantidade de VOC (compostos orgânicos voláteis), como látex e acrílica.
''É preciso também evitar o uso de materiais que consumam muita energia em sua produção, como o alumínio, ou que para serem fabricados seja necessário emitir grande quantidade de CO2, contribuindo para aumentar o efeito estufa. Outro ponto fundamental é usar muitos materiais reciclados ou novos materiais que em sua fórmula de produção contenham produtos recicláveis, como o aço para construção feito a partir de sucata, ou cimento CP III que tem em sua composição resíduos de escória de alto forno'', afirma Barros.
Um prédio verde deve reservar vagas de garagem para os automóveis flex em detrimento dos carros que usam combustível fóssil como diesel e gasolina. Também deve ter local apropriado para guardar as bicicletas de seus clientes e funcionários que usem este meio de transporte, inclusive com vestiário para que possam se higienizar.
Todos os funcionários da obra, inclusive os prestadores de serviços e fornecedores de materiais de construção, devem ser legalizados. A iluminação que tenha origem em um prédio verde não pode sair de seus limites prejudicando ou ofuscando os vizinhos bem como a fauna de seu entorno.
Uma obra pode ser enquadrada como sustentável na medida em que obter pontos atendendo aos rigorosos critérios de certificação LEED norte-americano, ou HQE, francês. A obra deve atender a vários pré-requisitos sobre a poluição gerada durante a construção e no pós-ocupação.
Uma obra sustentável certificada custa cerca de 3% a mais que uma obra normal, porém ela tem a grande vantagem que o custo de sua operação é menor. ''A taxa de condomínio é mais barata, em especial pelo menor consumo de água e energia elétrica, entre outros itens'', destaca Barros.
Atualmente, os Estados Unidos concentram o maior número de prédios sustentáveis. Em alguns estados, as obras públicas só podem ser realizadas se forem certificadas pelo LEED.
O primeiro prédio verde de Londrina será o Ecomercado Palhano, com projeto do arquiteto Guilherme Torres e empreendimento do imobiliarista Raul Fulgêncio. A Master Ambiental participa deste projeto com o objetivo de garantir a obtenção da certificação internacional do Ecomercado Palhano como prédio sustentável.