Entrar em um motel e dar de cara com um ambiente cafona, aos poucos, vai deixando de ser lugar comum. Ao menos no caso de alguns empreendimentos luxuosos da cidade. ‘Os clientes buscam algo nobre, sofisticado. Você não precisa reproduzir o que ele tem em casa, mas também não pode transformar o quarto de motel em um circo’, comenta o arquiteto Carlos Roberto Lupatini, 42. Ele é o responsável pelo projeto das unidades da rede Vis à Vis, que tem motéis nos três estados do Sul, e pela suíte master do Você Que Sabe, em Curitiba.
‘Unimos duas suítes antigas, o que foi um laboratório para o desenvolvimento do projeto do Acqua.’ Inaugurado em dezembro, o empreendimento também assinado por Lupatini oferece quartos, batizados com nomes como Matisse e Picasso, por R$ 109 a R$ 247 o período. Ele cita algumas questões como as mais importantes: primeiro, o impacto visual, uma vez que o cliente busca um ambiente diferente do que tem em casa.
o conforto é fator chave e por isso mesmo o piso aquecido é fundamental. Quanto à segurança, a sugestão do arquiteto é evitar quinas e pisos escorregadios. A iluminação vem para criar efeitos e as luzes jamais devem ser frias, o que deixaria a pele pálida e não realçaria as curvas do corpo. Buscando eqüilíbrio, Lupatini optou pelo predomínio de apenas uma cor na decoração de cada um dos quartos.
Ao lado do Acqua, na Rodovia do Café, foi inaugurado no dia 1º de outubro o concorrente Mystik. Apresentado como o mais luxuoso da cidade, ele traz o conceito de motel boutique. ‘É a mesma idéia de uma loja sofisticada, que traz peças exclusivas, detalhes próprios e um espaço diferenciado’, explica Gastão Lima, 48, responsável pelos interiores. As cores, vibrantes, são, segundo o arquiteto, estimulantes. Nos quartos que começam em 75 m2 (a suíte Rubi – R$ 138 o período) e chegam em 155 m2 (Ametista – R$ 318), as combinações vão do lilás e branco, preto e verde ao cinza e preto.
‘Antes, o mais luxuoso era o Celebrity’, comenta Silmere Moura, 35, responsável pelo projeto arquitetônico do Mystik, que pertence à rede de um hotel e cinco motéis do grupo, justamente, Celebrity. O espaço citado pela arquiteta possui as suítes gêmeas Mirage (300 m2 cada), inauguradas em 2003 e locadas ao preço de R$ 399 são as maiores da cidade. Posto que devem abandonar em 2009, uma vez que estão em obras no Mystik três suítes de três andares construídas lado a lado, o que permite transformá-las em uma só, com 850 metros quadrados de área.
Atualmente são 12 os quartos em funcionamento – no total serão 27, ou 4.550 m2 de área construída. O empreendimento foi aberto com o conceito de ‘soft open’, em que as suítes são inauguradas aos poucos, à medida que ficam prontas.
Desde a entrada
Plantas exóticas, desenhos sinuosos e iluminação de leds. Já na entrada, o Mystik vai criando um clima. ‘E a faixada é exuberante, de aparência exótica, para que seja estimulante e o cliente pense: ‘Estou entrando em um lugar diferente’, conta o arquiteto Gastão Lima.
Ele trabalha com motéis desde 1989, quando participou do projeto do Playtime, em Brasília. ‘Sempre penso em durabilidade, estética, bom gosto e aparência asséptica. Com piso de madeira, por exemplo, você não consegue isso’, diz sobre as questões fundamentais na hora de projetar um empreendimento como esse. Antes de definir os interiores do Mystik, Gastão fez um tour pelos motéis da cidade, onde encontrou problemas de manutenção e, com freqüência, projetos de gosto duvidoso.
Na sua opinião, o resultado de seu trabalho, que contrapõe objetos clássicos (como os lustres importados da China ao custo de R$ 8 mil cada) com móveis mais arrojados, dá ‘ares de um loft de luxo de um casal jovem’. ‘É praticamente uma suíte de casa, com um ar mais charmoso’, comenta a arquiteta Silmere Moura. Para Gastão, a qualidade atrai clientes de alto poder aquisitivo.
‘Utilizamos os mesmos materiais das construções de mais alto padrão de Curitiba. O que o cliente encontra é o que tem ou o que gostaria de ter em casa. Hoje, se você fotografar aqui, pode parecer que está em um apartamento de luxo’, completa o arquiteto.
Nas suítes há televisores de plasma de 50 polegadas, quadro de controle de iluminação além de teto retrátil em duas delas. Por trás de todo esse cenário, há um backstage surpreendente, onde corredores largos servem de acesso para o serviço de quarto e para a cozinha – esta de cardápio planejado por um chefe de renome na cidade. Entre os quartos e a área de serviço, além do isolamento acústico promovido por paredes duplas e lajes espessas, há uma antecâmara para garantir que os sons emitidos em cada um dos lados fiquem reduzidos aos seus devidos ambientes.
Quantidade
Curitiba tem hoje 62 motéis, segundo a Associação de Motéis do Paraná (Amopar), que tem 26 filiados.