Curiosamente, o banho de ofurô já foi proibido no Brasil. Não que houvesse uma restrição oficial, mas as orientações registradas em antigos manuais aos imigrantes japoneses recomendavam: ''Não instalar o ofurô em locais abertos porque os brasileiros poderiam criar rejeição aos japoneses ou até expulsá-los. Esta construção deve ser cercada de arbustos para proteger dos olhares e também por questões estéticas''.
O que parece um tratado para evitar contrangimentos diplomáticos entre Brasil e Japão, era um manual de sobrevivência dos imigrantes japoneses.
Textos inéditos como esse, com relatos de viajantes ou recomendações e manuais de associações e órgãos oficiais traduzidos e organizados pelo arquiteto e professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Humberto Yamaki, estão no livro ''Lições de Arquitetura'', lançado este mês pelo Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic).
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Mestre e doutor em Planejamento Ambiental pela Universidade de Osaka, Japão, e pós-doutorado em Desenho Urbano na Oxford Polytechnic, Yamaki deve lançar ainda outros seis livros da série em que começa resgatando a história da arquitetura dos imigrantes japoneses.
O material impresso nas décadas de 20 e 30 traduzido por Yamaki faz parte de um acervo disperso em universidades e centros de pesquisas no Brasil e Japão.
A tradução dos originais permite um novo olhar não só sobre as moradias dos imigrantes, desde os ranchos de palmito às casas de taipa e madeira, como também em alguns hábitos e costumes de uma época.
''Com a publicação da série, a gente pretende trazer informações pouco conhecidas que apresentam um pouco da história das técnicas de construção no Brasil'', afirma Yamaki.
As mitológicas casas de madeira construídas sem pregos, mas com encaixes perfeitos são uma marca forte da colônia na paisagem urbana e rural da região. Os japoneses são conhecidos pelo dom da carpintaria e não foi coincidência que entre os passageiros do Kasato Maru desembarcaram 20 destes profissionais.
A valorização do paisagismo e dos materiais, preocupações sanitárias, são indícios de uma arquitetura ecológica. Além disso, é possível também perceber, pelos textos, a escolha de um local para a construção que respeitasse a salubridade, cuidados para evitar a malária, doença comum na terra desbravada e a preocupação com a higiene interna.
Além dos textos comentados, o livro traz desenhos e fotos que, como aponta o livro ''demostram o capricho dos moradores ou o virtuosismo dos mestres carpinteiros''.
Serviço
Lições de Arquitetura, de Humberto Yamaki
Local de venda - Livraria da Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Campus, e Museu Histórico de Londrina
Quanto - R$ 20