Durante a construção de edifícios, o impacto no meio ambiente é considerável em vários aspectos. Porém, uma questão ainda não havia sido abordada em profundidade no Brasil: a emissão de material particulado no canteiro de obras. O engenheiro Fernando Resende, em sua dissertação de mestrado apresentada na Escola Politécnica da USP, deu um passo importante para preencher esta lacuna - e já foi premiado por isso.
"Poluição atmosférica por emissão de material particulado: avaliação e controle nos canteiros de obras de edifícios'' é o título do trabalho realizado por Resende. A pesquisa é inédita no País e aponta as principais fontes de emissão de partículas na atmosfera, além de sugerir ações e ferramentas para seu controle. ''Meu objetivo foi estudar e propor práticas viáveis no dia-a-dia das construtoras, que precisam lidar com uma série de atividades complexas em sua rotina. Além disso, sei que o custo é fator determinante. Por isso, procurei apresentar soluções simples e baratas, para facilitar sua implantação nos canteiros'', explica Resende.
Demolição, movimentação de terra, serviços de corte, raspagem, lixamento, perfuração, quebra, são as principais atividades que geram partículas. Além disso, movimentação e armazenamento de materiais pulverulentos (agregados, aglomerantes, argamassas, resíduos), também são fontes emissoras de partículas.
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Dependendo dos níveis de emissão, o material particulado pode causar impactos no meio ambiente e transtornos para a população: irritação nos olhos e na pele e problemas respiratórios e cardíacos; e incômodos como poeira e resíduos que se acumulam em imóveis, automóveis, monumentos e paisagens. Na vegetação, a poeira depositada nas folhas interfere na fotossíntese, altera o pH e os níveis de pigmentação das plantas, reduz seu crescimento e as deixa suscetíveis a doenças.
Especialista sugere medidas de prevenção e controle
O engenheiro Fernando Resende aponta ações que podem auxiliar tanto no prevenção como no controle da emissão destes poluentes no espaço das obras. Entre as medidas preventivas ele aponta a diminuição do volume de escavação nas obras. ‘Em vez de construir subsolos para garagem, pode-se projetar edifícios com estacionamento localizado acima do nível do solo, por exemplo. Isso evita a necessidade de movimentação de terra e a dispersão de poeira no ar’, esclarece.
Para o controle na emissão desses resíduos Resende cita a lavagem dos pneus dos caminhões na saída da obra, evitando que lama e terra espalhadas pela rua, ao secar, circulem na atmosfera. Outra medida é proteger os locais de armazenamento de materiais e resíduos em pó, evitando que sejam carregados pelas chuvas ou espalhados pelo vento. Executar serviços de demolição com barreiras físicas, tais como as redes de proteção, isolando o local, ou aspergindo água de reuso, também são providências que evitam a dispersão de poeira na atmosfera.
Para o monitoramento das emissões e seu controle, Resende informa que há uma série de metodologias disponíveis. ‘A mais comum é o uso do amostrador de grande volume ou Hi-Vol, que mede a concentração de partículas na atmosfera’, informa o pesquisador. ‘Essa metodologia é utilizada por várias agências ambientais do mundo todo, com padrões de qualidade do ar já estabelecidos’.
Poucas empresas brasileiras fazem controle rigoroso sobre a emissão de material particulado, ressalta Resende. Ele acredita, contudo, que a preocupação com as questões ambientais tende a crescer, seja por demanda da população, do poder público, dos órgãos financiadores, ou pela própria conscientização das empresas. ‘A importância do controle de emissões de partículas nos canteiros é tal que, em países como EUA, Inglaterra, China e Austrália, já existem leis específicas sobre o tema. Em alguns Estados americanos, conforme o tipo de obra, o controle é obrigatório, e passa pela elaboração de um plano de gestão de emissão, que deve ser aprovado por órgãos ambientais, antes do início das obras’, destaca.
O trabalho de Fernando Resende foi realizado no âmbito do grupo de pesquisa voltado ao tema dos ‘canteiros de obras sustentáveis’, do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Poli/USP. Coordenado pelo professor Francisco Cardoso – que também orientou a dissertação – o grupo já realizou trabalhos enfocando diversos assuntos, como o estabelecimento de critérios para avaliação de canteiros de obras sustentáveis, as práticas de responsabilidade social empresarial no relacionamento com fornecedores, e a capacitação e a certificação profissional dos trabalhadores dos canteiros de obras.