Atípica, uma tempestade de poeira atingiu Franca, no interior de São Paulo, afetando a visibilidade no trânsito e obrigando comerciantes a fecharem as portas. Moradores relataram dificuldade para respirar.
A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) pediu para não haver desperdício de água com a limpeza, pois a região passa por racionamento devido à estiagem.
O fenômeno também foi visto em Ribeirão Preto, Orlândia, Dumont e Jardinópolis. Em todas essas localidades houve falta de energia em alguns bairros assim como queda no serviço de internet.
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Vídeos e fotos da nuvem de poeira circularam imediatamente pelas redes sociais e grupos de WhatsApp.
Moradores do Jardim Consolação, Distrito Industrial, Parque dos Lima, Residencial Paraíso, Vila Santa Cruz, Estação e Residencial Amazonas registraram a tempestade de terra.
O comerciante Eduardo Rodrigues Sanches, 56, foi levar o filho a um supermercado na avenida Antônio Barbosa Filho quando percebeu o céu escurecido na região do Franca Shopping.
Em seguida, tomou a rodovia Cândido Portinari, sentido Bairro Vera Cruz, e enfrentou a tempestade de poeira durante o percurso.
"Foi uma cena apavorante, ficou tudo tomado pela poeira, eu não enxergava nada na minha frente. Do lado, muitas sacolas, folhas e papéis estavam voando para todo lado e até o carro sacudia com o vento. Todo mundo ligou o pisca alerta dos carros. Fiquei com medo porque a gente não pode subestimar a força da natureza."
Em outro ponto da cidade, a esteticista Ana Luisa Flausino, 32, também foi surpreendida pela virada no tempo. Ela mora em um condomínio na Vila Santa Cruz e estava deitada no sofá descansando quando escureceu de repente.
"Estava até sol, mas ficou escuro e pensei que era chuva. Quando olhei, a poeira já tinha tomado a região toda do meu bairro. Foi uma sensação horrível de sufocamento, porque parecia que estava entrando poeira dentro de casa, estava com cheiro forte, muito forte mesmo."
Moradora do Residencial Amazonas, a jornalista Ana Luisa Silva, 38, disse que passou momentos de medo quando a cidade ficou encoberta pela poeira e foi atingida por rajadas de vento.
"Pela janela, eu vi a nuvem de poeira vindo para a direção do meu apartamento e fiquei bem assustada. Na verdade, parecia que o mundo estava acabando, sabe? Quando encobriu o bairro, o condomínio onde eu moro, fiquei com bastante medo. Foi questão de uns quatro minutos e ficou tudo escuro", afirmou ela, que observou o fenômeno por volta das 16h30.
Neste mesmo horário, a analista de sistemas Nise Peres, 43, moradora da Vila Nicácio, estava na calçada com a filha de 13 anos e dois sobrinhos, um com 5 anos, outro com 1, quando percebeu a nuvem de poeira se aproximando. Ela conta que não conseguiu distinguir se era chuva até que sentiu o gosto de terra na boca.
"Eu olhei para o bairro da Estação e vi nuvens em tons de rosa amarronzado vindo em nossa direção. De repente, as folhas que estavam no chão começaram a voar e as árvores balançando muito forte. Aí eu senti gosto de poeira. Corri para fechar a casa e colocar as crianças para dentro. A casa toda está suja e justamente neste momento com falta d´água."
Após a nuvem de poeira, choveu na cidade com relâmpagos e trovoadas. Outros municípios da região também foram afetados pelo fenômeno. Um deles foi Dumont, a 22 quilômetros de Ribeirão Preto.
No início da noite, a Sabesp, que mantém racionamento de água desde o dia 2 de setembro, emitiu comunicado em que recomenda aos moradores de Franca que não desperdicem água na limpeza das casas, quintais e calçadas, mesmo com a grande quantidade de poeira e fuligem geradas pelo fenômeno.
"Sabemos que o evento atípico de hoje (26/9) trouxe uma grande quantidade de poeira e fuligem para dentro das casas. Mas o município passa por um período de severa estiagem, com rodízio no abastecimento de água. É preciso que todos que usem a água de forma consciente, sem desperdícios", diz trecho da nota.
O fenômeno assustou também outros moradores da região. Em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), a empresária Edna Santos, 54, estava preparando a festa de aniversário da filha, na sacada do oitavo andar do prédio onde moram, no bairro Jardim Irajá, zona sul, quando se deparou com a visão "estranha e ao mesmo tempo assustadora", nas palavras dela.
"Todos nós em casa ficamos com medo de acontecer uma tragédia. A cortina de vidro vibrou muito com o vento forte, parecia que ia quebrar tudo. Era uma mistura gigante de nuvens de chuva com poeira de terra e de queimada. Um horror."
Edna conta que em alguns pontos da cidade houve falhas na distribuição elétrica. "Moro em Ribeirão desde que nasci e nunca tinha visto algo assim. Reação da natureza às mazelas produzidas pelo bicho homem", disse a empresária.
De acordo com especialistas, a crise do clima tem como uma de suas consequências a ocorrência de eventos extremos.
Do outro lado da cidade, na zona norte de Ribeirão Preto, a artesã Andréia de Lourdes Aleixo, 55, ficou a tarde toda sem internet. "Houve interrupção de luz em diferentes momentos. E agora [por volta das 20h], acabou a água", contou.
"Não tem mais área verde nessa região. Virou tudo canavial. Com a seca, as queimadas e a poeira urbana, imagina a sujeirada que virou. Quando a nuvem gigante de poeira foi se aproximando, já dava para perceber o que ia acontecer. O problema é que não tivemos tempo para nos preparar. Foi tudo muito rápido."
A pouco mais de 20 km dali, na cidade de Dumont, o comerciante Deangelis Rangel Eliais, 32, disse que, a partir do momento em que a nuvem escura se aproximou, "o dia virou noite". Os relógios marcavam 14h de domingo, mas as ruas estavam completamente escuras.
"Foi assustador. Um misto de ventania, poeira e muita chuva. A água estava na cor da terra. Houve agalamentos em diferentes pontos da cidade. A tempestade fez ainda a maioria dos bairros ficar sem luz elétrica. Parecia filme catástrofe."