Política

TRE não pode impedir criação de perfis 'fake' nas redes sociais

30 mar 2014 às 17:39

As últimas eleições para a Presidência da República foram realizadas em 2010. Naquele ano, menos de dez milhões de brasileiros possuíam perfis no Facebook. Em quatro anos, o número de usuários do Brasil na principal rede social do mundo subiu para os 83 milhões.

Pesquisas apontam, ainda, que, atualmente, um em cada dez brasileiros utilizam o Twitter e pelo menos 20% dos internautas do país têm o WhatsApp instalado em seus smartphones.


Os responsáveis pelas campanhas dos pré-candidatos ao próximo pleito - marcado para outubro deste ano - já perceberam a importância da internet na angariação de votos e no monitoramento do pensamento do eleitorado. Levantamento feito pela reportagem do Bonde mostra que os três principais pré-candidatos à Presidência da República - Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) - possuem juntos na rede quase cem endereços eletrônicos. Já os possíveis postulantes ao Governo do Paraná - Beto Richa (PSDB), Gleisi Hoffmann (PT) e Roberto Requião (PMDB) - têm, cada um, pelo menos oito perfis ou páginas no Facebook.


Os pré-candidatos são, ao mesmo tempo, amados e odiados pelo internauta brasileiro. Mais da metade dos sites desfere críticas pesadas contra eles. Os demais endereços são oficiais ou comandados por militantes partidários e eleitores simpatizantes.


Os perfis 'fake' são o destaque na rede. Criadas por hackers com o único propósito de complicar a vida dos adversários, as páginas vão ganhar atenção especial da Justiça Eleitoral nas eleições deste ano. O Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) informou via assessoria de imprensa que não pode realizar campanhas preventivas para evitar a proliferação dos perfis 'fake'. Iniciativas do tipo, de acordo com o órgão, configurariam censura prévia. A assessoria de imprensa do TRE garantiu, entretanto, que o órgão está aberto para o recebimento de denúncias.


O Tribunal Regional Eleitoral informou, ainda, que, até agora, duas páginas foram retiradas da internet por conter ofensas contra a senadora Gleisi Hoffmann, pré-candidata do Partido dos Trabalhadores ao Governo do Paraná. A retirada foi determinada pela Justiça no final do ano passado. Uma das páginas era justamente um perfil 'fake' do Facebook. A outra, intitulada "Gleisi Não", tinha como autor das postagens José Gilberto Maciel, jornalista da Agência Estadual de Notícias. A assessoria de Beto Richa negou participação no caso.


Efeito e causa


O coordenador do Mestrado de Ciências Políticas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Emerson Cervi, acredita na presença maciça dos candidatos nas redes sociais, mas argumenta que a internet pode não influenciar diretamente no resultado das eleições. "Você muda a forma de fazer (a campanha), mas pode ser que isso não altere o resultado final", destaca.


Na avaliação dele, a rede não passa a credibilidade necessária ao eleitorado. "Não tem como antecipar qualquer tipo de efeito. Vai depender muito da criatividade do candidato", afirma. O cientista político observa, ainda, que "o percentual de pessoas que procura política nas redes sociais é muito pequeno". "Sem contar que apenas metade dos brasileiros tem acesso à internet", acrescenta.


Cervi ressalta também que é muito difícil o eleitor mudar o voto só por algo que viu na internet. "Quem utiliza a ferramenta para fazer campanha já tem o candidato definido."


Apesar de não ver credibilidade no conteúdo online, o cientista político acredita que os marketeiros dos candidatos vão fazer de tudo para "vendê-los" da melhor forma possível nas redes sociais. "Eles trabalham muito com o 'estouro da boiada'. É uma lógica do marketing. Para eles, o que importa é o número de curtidas e não se isso vai acabar em votos", argumenta. "Se perceberem que o adversário está usando (a internet na campanha), com certeza vão atrás de fazer o mesmo", completa.

A campanha política, de acordo com Cervi, passa diretamente pela "desconstrução da imagem do candidato adversário". "Não tem como avançar se o seu adversário não regredir. Agora, quais são os limites para isso? Só a Justiça Eleitoral vai dizer...", conclui.


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