Política

Sete anos de Requião: muitas promessas ficam no papel

03 jan 2010 às 10:20

Em sete anos de governo de Roberto Requião no Paraná, o líder do Executivo no Estado deixou por aqui a marca de uma gestão voltada ao pequeno produtor e ao pequeno negócio e de um governante beligerante e polêmico. Para os especialistas ouvidos pela FOLHA, o governo Requião não terá uma grande obra para mostrar, mas sim uma atuação marcada pelas pequenas realizações nos municípios e pelo incentivo ao pequeno e microempreendedor.

''É um governo que sempre buscou a desoneração do pequeno negócio, do pequeno produtor. É uma meta que ele cumpriu de maneira inovadora inclusive em relação ao resto do país'', avalia o advogado especialista em planejamento tributário Gilberto Amaral, do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT).


Para o cientista político Adriano Codatto, Requião investiu nas pequenas obras. ''Quem acompanha a 'escolinha' (reunião semanal do governo) vê que toda semana ele anuncia uma série de medidas para os municípios, para os pequenos negócios. É um governo notadamente desenvolvimentista focado na indução do pequeno negócio'', destaca. ''Ele pensa no capitalismo nacional, que é capitaneado pelas pequenas empresas. E isso deixa um saldo muito positivo para o estado'', continua.


Ele também credita a Requião uma mudança da relação dos governantes com o Estado. ''Houve uma diminuição brutal na corrupção, na influência de grupos privados na gestão pública'', elogia. ''Não quero dizer que não há corrupção nessa gestão, mas houve um ganho enorme no fim das privatizações, em não se vender a Copel, a Sanepar'', completa.


Pendências


Mas Codatto destaca que as grandes realizações prometidas pelo governador ainda estão pendentes, como a dragagem do Canal da Galheta, em Paranaguá, e a estatização dos pedágios. ''O pedágio não só não acabou nem baixou como ganhou novas praças em estradas federais do Paraná'', aponta.


As tais ''estradas da liberdade'', que o governador havia apresentado como alternativa às rodovias pedagiadas, era uma proposta fadada ao fracasso desde o começo, critica o vice-presidente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (CREA), Gilberto Piva. ''O Paraná não tem tráfego para ter pedágio, muito menos que justificasse a criação de rodovias alternativas'', diz.


Para Piva, o caminho para o governador era o da negociação com as concessionárias. ''Ele deveria ter criado um canal de comunicação para rediscutir com as empresas as obras, os valores de forma a deixá-los mais acessíveis à sociedade'', opina.


Postura beligerante


''O que vemos hoje é que Requião deveria ter tido menos bravatas e mais ação'', critica Daniel Rossi, especialista em gestão pública. ''Houve falta de diplomacia nesse governo. Esse é um tipo de liderança ultrapassado, que centraliza tudo'', completa. Para Rossi, a postura beligerante de Requião afetou inclusive outras áreas da administração, como a segurança. ''O que vimos foram dados divulgados de forma pouco convincente, pouco acesso da imprensa a informações oficiais sem que a população tenha visto grandes avanços nessa área'', destaca.


O advogado criminalista e professor de Direito e Processo Penal da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), Norberto Bonamin Júnior, explica que na área de segurança o que se viu foi uma Polícia Militar encarregada de prender e uma Polícia Civil muito sobrecarregada para investigar. ''A PM prende, leva para a delegacia e o policial civil que deveria investigar está ocupado sendo guardião de preso'', aponta.


Segundo Bonamin, o problema da violência e o aumento de gangues de rua nas cidades já existia em governos passados. ''Mas sem uma ação eficaz do governo, ele se perpetuou'', diz. ''Houve até algumas iniciativas positivas, como a criação de delegacias especializadas com maior estrutura para a investigação, mas nem tudo pode ser resolvido pelas especializadas. Na delegacia de bairro o policial civil está abandonado, sem condições de trabalho'', completa.

A FOLHA tentou conversar com o governador Requião sobre seus sete anos de governo, sem sucesso.


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