O fundador e antigo dono do jornal Diário do Grande ABC, Maury Campos Dotto, declarou à força-tarefa da Operação Lava Jato que o empresário Ronan Maria Pinto pagou R$ 12 milhões pela compra dos 40% das ações da empresa, em 2004 - que deram a ele o controle acionário da empresa.
Preso na sexta-feira (1), na Operação Carbono 14, o novo alvo das investigações declarou à Receita Federal que o negócio foi fechado à R$ 3,6 milhões.
Dotto afirmou que "40% das ações de Fausto Polesi (outro sócio) foram vendidos por R$ 12 milhões, sendo a primeira parcela no valor de R$ 1,5 milhão na assinatura". A declaração foi dada em depoimento no dia 13 de janeiro para o procurador da República Diogo Castor de Mattos, da força-tarefa da Lava Jato.
"A venda das ações (40%) ocorreu em 30 de abril de 2004, mas a efetiva assembleia que transferiu as ações ocorreu em 19 de novembro de 2004, sendo que o registro desta assembleia na Junta Comercial somente foi feito no dia 28 de abril de 2006."
Ronan Maria Pinto foi preso temporariamente junto com o ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira na 27ª fase da Lava Jato. Eles são suspeitos pelo empréstimo fraudulento no Banco Schahin de R$ 12 milhões, feito pelo pecuarista e amigo do ex-presidente Lula José Carlos Bumlai, em benefício do PT.
Desse montante, R$ 6 milhões foram repassados para o empresário do ABC. Seu nome chegou a ser investigado no assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel (PT), em 2002.
A partir de um depoimento de 2012 do publicitário Marcos Valério - condenado no mensalão como operador de propinas do PT no governo -, a Lava Jato suspeita que uma suposta chantagem envolvendo Ronan e integrantes da cúpula do partido, como Lula e o ex-ministro José Dirceu, seria um dos motivos do repasse.
A Lava Jato não investiga o crime de homicídio e não vai reabrir o caso - suas apurações, no entanto, podem gerar uma reviravolta na esfera estadual, que já julgou em primeiro grau o caso e desconsiderou motivação política no assassinato, como apontava a Promotoria paulista. O interesse da força-tarefa é em relação a origem dos recursos.
"Logo, do dinheiro que saiu do Banco Schahin, ao menos R$ 1.470.000,00 foram utilizados para pagar diretamente a compra de ações do Jornal Diário do Grande ABC, sendo possível, neste ponto, vincular diretamente o esquema da fraude do empréstimo do Banco Schahin à compra do periódico", informou o Ministério Público Federal, em seu pedido de prisões da Operação Carbono 14.
Em seu depoimento, Dotto afirmou que sempre cuidou da área comercial, enquanto o ex-sócio Polesi "ficava responsável pela linha editorial". Ronan Pinto havia comprado 20% das ações do jornal em 2001, referentes às ações do irmão falecido" de Maury Dotto, Edson Dotto. "Uma vez sabendo que Fausto Polesi intentava vender suas ações, se interessou em comprá-las. Fausto Polesi afirmou que não venderia a Ronan Maria Pinto porque preferia vender para o depoente de quem tinha certeza que receberia."
Dotto disse que comprou as ações do sócio que correspondiam a aproximadamente 40% do total de ações do jornal em abril de 2004, "vendendo-as no mesmo dia para Ronan Maria Pinto, que passou a ter o controle acionário do jornal com 60% das ações".
Os procuradores da Lava Jato anexaram aos autos da Carbono 14 cópia do Imposto de Renda de Ronan Maria Pinto. "Conforme as declarações de Imposto de Renda de Ronan Maria Pinto, em outubro de 2004, este adquiriu 38,83% das quotas do Diário do Grande ABC de Maury de Campos Dotto por intermédio de empréstimo recebido da Expresso Nova Santo André no valor de R$ 3.652.000,00."
Dono
Dotto explicou aos investigadores que Ronan passou na adquirir participação no Diário do Grande ABC em 2001. Na época, comprou 20% de um dos fundadores. Em 2004, ele adquiriu os outros 40% - assumindo como controlador do impresso -, na operação que é alvo da Lava Jato. Em 2007 ele teria comprado os 40% restantes.
Nessa época, Ronan trocou tanto a equipe editorial como administrativa, colocando gente de sua confiança, explicou o antigo dono. Ao todo, a compra do Diário do Grande ABC - maior periódico de circulação na região metropolitana de SP fora os da capital - teria custado R$ 30 milhões a Ronan - empresário que fez fortuna com seus negócios de transporte público em Santo André.