A aprovação da reforma tributária na Câmara dos Deputados, nesta semana, mostrou perda de força do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e sinalizou que uma direita menos radical poderá ganhar espaço até as próximas eleições. Apesar das dificuldades enfrentadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para manter uma base sólida no Legislativo, a proposta apoiada pelo governo foi aprovada em primeiro turno, na quinta-feira, com 382 votos favoráveis e 118 contrários. A aprovação em segundo turno teve 375 votos favoráveis.
Na quarta-feira, Bolsonaro divulgou um texto pedindo votos contrários à PEC (Proposta de Emenda Constitucional). Ele disse que todos os eleitos com as bandeiras de “Deus, Pátria, Família e Liberdade” deveriam votar contra e afirmou que, se fosse deputado, “votaria contra tudo que viesse do PT”. No dia seguinte, o governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos), chegou a ser interrompido pelo ex-presidente durante um encontro do PL quando falava sobre o tema e acabou vaiado. Tarcísio, que teve reuniões para negociar alterações na proposta, defendeu a aprovação.
Apesar dos esforços de Bolsonaro, 20 parlamentares de seu partido, o PL, votaram a favor da reforma (95 foram contra). Os dois partidos que apoiaram a reeleição do ex-presidente no ano passado, PP e Republicanos, votaram majoritariamente a favor da proposta. No PP, 40 deputados votaram a favor e seis foram contra; no Republicanos (partido de Tarcísio), 36 apoiaram a reforma e somente três foram contrários.
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PERDA DE FÔLEGO
Para cientistas políticos ouvidos pela FOLHA, o posicionamento claro de Bolsonaro em relação ao tema e o resultado da votação mostram perda de fôlego e isolamento do ex-presidente. Ao mesmo tempo, o nome de Tarcísio de Freitas pode aparecer como uma opção para a direita na eleição presidencial de 2026. A votação também mostrou, mais uma vez, o poder do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
“O processo evidencia uma perda de fôlego do Bolsonaro, da figura individual do ex-presidente, um isolamento. Partidos de direita como o Republicanos explicaram seu posicionamento e apontaram a aprovação como uma vitória”, disse o doutor em Sociologia Política e professor universitário Rodrigo Horochovski. “É uma vitória do governo, do Arthur Lira e eu diria de uma liderança emergente da direita, que é o Tarcísio. E uma derrota muito grande para o Bolsonaro. A aposta se revelou ruim para ele”.
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