O fotógrafo Marcelo Caramori, que era assessor da Casa Civil no governo Beto Richa (PSDB) até ser preso acusado de participar do esquema de exploração sexual de adolescentes em Londrina, em janeiro do ano passado, vai ser ouvido como testemunha do processo relativo à Operação Publicano 1, que apura casos de corrupção na Receita Estadual. Este é o terceiro dia de audiências do processo.
Após ser preso, ele firmou com o Ministério Público (MP) acordo de delação premiada e contou aos promotores tudo o que sabia sobre supostos esquemas ilícios de pedofilia e de fraudes na Receita, além de irregularidades que envolveriam o parente distante de Beto, o empresário Luiz Abi Antoun, réu no processo da Voldemort e na segunda fase da Publicano.
Em depoimentos prestados aos promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) nos dias 5 e 9 de fevereiro de 2015, Tchelo, como é conhecido o fotógrafo, relata a proximidade e a suposta influência de Abi no governo estadual e na Receita; diz que o empresário seria o "caixa de campanha" da reeleição de Richa, em 2014, fato negado pelo PSDB. Abi, no entanto, não é réu na Publicano 1, mas somente na segunda fase da operação. É apontado pelo Gaeco naquele processo como líder político do esquema criminoso no órgão fazendário.
O fotógrafo afirmou ainda que o auditor Márcio de Albuquerque Lima, ex-chefe da Receita Estadual em Londrina, foi nomeado inspetor geral de Fiscalização da Receita do Paraná, por indicação de Abi. Também falou sobre a proximidade entre Lima e os auditores José Luiz Favoreto, que também já foi chefe da Receita local, e Luiz Antonio de Souza, principal delator do esquema e também acusado de exploração sexual. Ele mencionou ainda relações entre o empresário do setor de combustíveis Paulo Midauar, Lima e Abi.
"O Marcelo Caramori faz relatos de diversas situações relativas aos fatos denunciados, tanto com relação à organização criminosa quanto a fatos específicos narrados na denúncia", resumiu a promotora do Gaeco Leila Schimit, ao ser questionada sobre a expectativa para o depoimento do delator.
Ontem foram ouvidas seis testemunhas arroladas pelo MP. Uma delas foi o porteiro do prédio onde morava a auditora Ana Paula Pelizari Marques de Lima, mulher do suposto líder da organização criminosa e importante integrante do esquema, segundo o Ministério Público. O porteiro teria testemunhado a retirada de documentos antes de operações de busca e apreensão e, segundo o MP, poderia ter ocorrido destruição de provas. Uma amiga de Ana Paula também sentou no banco dos depoentes. A auditora acompanhou a audiência realizada no Tribunal do Júri juntamente a outros colegas. Também foram ouvidos contadores e um policial do Gaeco. Cinco testemunhas foram dispensadas pela promotora.
Hoje, além de Caramori, foram arroladas outras dez testemunhas, mas o fotógrafo deve ser o primeiro a ser ouvido, sem observar a ordem alfabética, atendendo pedido de advogados.
As outras três fases da Operação Publicano, que são desdobramento da primeira, seguem tramitando na 3ª Vara Criminal, em fase de citação dos réus.