Apesar do esforço dos senadores do bloco de sustentação do governo para que a reforma da Previdência tramitasse nos prazos normais no Senado, o calendário vai atrasar em pelo menos uma semana.
É que aconteceu um problema com o qual a base aliada não contava: o excesso de trabalho na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça).
Por falta de pessoal para sistematizar rapidamente o texto aprovado pelos senadores, a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) só foi enviada à Secretaria Geral do Senado na última sexta-feira e deve ser lida amanhã no plenário da Casa.
Depois da leitura na Ordem do Dia, a PEC segue para publicação no Diário do Congresso. A partir de então, é preciso esperar mais cinco dias úteis para que a matéria entre em discussão no plenário.
Com este inesperado atraso, o início das discussões sobre a emenda, previsto para quarta-feira, fica para terça-feira da próxima semana.
Discutir não é votar
Discutir, no Senado, não é votar. Durante cinco sessões os senadores apenas discutem a matéria. Neste prazo, são encaminhadas as emendas de plenário, que deverão retornar à CCJ para nova análise dos senadores.
Durante a avaliação das emendas de plenário --para apresentar uma emenda são necessárias 27 assinaturas de senadores-- o processo de avaliação do texto já aprovado fica suspenso.
O relator Tião Viana (PT-AC) tem o prazo máximo de 30 dias para emitir um novo parecer sobre as emendas, mas já adiantou que pretende fechar sua avaliação das sugestões em no máximo dez dias.
Foi a maneira encontrada pelo senador de dar mais rapidez ao processo, já que a primeira fase de votação na CCJ consumiu três semanas e o governo acabou surpreendido pelo volume de trabalho na Comissão.
Ordem do Dia
Aprovadas ou rejeitadas as emendas de plenário, a reforma da Previdência volta para a Ordem do Dia, já em votação. Vale lembrar que as emendas que forem rejeitadas na CCJ podem ser destacadas e votadas novamente em plenário.
Mesmo com a apresentação da PEC paralela com as mudanças acertadas entre governo e oposição, a batalha por alterações na PEC original da reforma não deve ser encerrada.
O PFL promete trabalhar para que as regras de transição da reforma sejam alteradas em plenário e o PMDB luta para encontrar uma solução para o subteto do funcionalismo público estadual no texto principal.
A tramitação da PEC paralela e as alterações nela apresentadas são o ponto o maior de polêmica no Senado quanto à reforma da Previdência.
O PFL argumenta que existe parecer do ex-presidente da Câmara, Michel Temer, de "puxar" de volta para as mãos dos deputados apenas as emendas que forem aprovadas na reforma e promulgar o restante que foi aprovado sem alterações tão logo o segundo turno no Senado seja encerrado.
PEC paralela
O relator Tião Viana, no entanto, contra-argumenta que a proposta dos pefelistas é inconstitucional e que a única maneira de tramitar as mudanças com agilidade é por meio da PEC paralela. A alteração ou manutenção do texto atual vai acabar sendo mesmo decidida no voto.
A apresentação da PEC paralela foi polêmica em si. Divulgada uma versão preliminar na segunda-feira (6), a proposta alternativa apresentada na terça pelo relator Viana continha um detalhe curioso: a possibilidade dos Estados e municípios aumentarem os percentuais de contribuição dos ativos e inativos, caso as contas públicas estivessem em risco.
Como o artigo gerou uma série de dúvidas e interpretações distintas dentro da própria base aliada, Tião Viana apresentou uma nova versão com o "erro" de redação corrigido.
No texto final, ao invés de falar em permissão para fixar percentuais superiores aos 11% da União em caso de risco para as contas públicas, a PEC paralela fala em permissão para fixar percentuais inferiores mediante a iminência de um colapso das contas dos Estados e municípios.
A PEC paralela, no entanto, não esclarece mais se existe alguma proibição para governadores e prefeitos fixarem percentuais acima dos 11% cobrados pela União.
O primeiro turno deve ser realizado em 20 de outubro. Para iniciar os três dias de debates do segundo turno, é preciso esperar por mais cinco dias úteis, que podem ser reduzidos mediante um acordo unânime de líderes.
Como as chances de um acordo para apressar a tramitação são mínimas, a votação em segundo turno deve ficar para novembro.
Informações Folha Online