A bancada do PT do Senado está dividida em relação ao papel que a ministra demissionária da Cultura, Marta Suplicy, terá tão logo reassuma o mandato de senadora. Ex-prefeita da capital paulista e única representante do Estado na Casa a partir de 2015, Marta apresentou nesta terça-feira, 11, sua carta de demissão da pasta, como antecipou nesta manhã a colunista Sonia Racy. Os atuais e futuros colegas de bancada ainda não conversaram para definir que missão - se ela tiver uma - a petista vai desempenhar.
Desde setembro de 2012 no ministério, Marta voltará ao Congresso depois de causar um mal-estar com Dilma à frente da Cultura. Ela chegou a articular internamente a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para concorrer ao Palácio do Planalto este ano. A atitude desagradou a ala "dilmista" do PT.
Fiel a seu estilo de atuação independente, Marta exaltou uma série de iniciativas aprovadas pelo Congresso para a área durante a sua gestão na Cultura, mas deu duas "cutucadas" no governo Dilma: 1) citou ter passado por "carências orçamentárias" à frente do ministério e 2) desejou que a presidente seja "iluminada" na escolha da nova equipe de trabalho, a começar por uma "equipe econômica independente, experiente e comprovada, que resgate a confiança e a credibilidade do governo e que, acima de tudo, esteja comprometida com uma nova agenda de estabilidade e crescimento para o nosso país".
Segundo aliados na bancada, a ministra demissionária tentará garantir um papel de destaque na bancada a fim de tentar viabilizar seu nome para concorrer novamente à Prefeitura de São Paulo em 2016. Ela tem se mostrado disposta a disputar prévias no PT contra o atual prefeito, o petista Fernando Haddad. Ou, se não buscar a reeleição para o Senado, poderá ser a opção do partido para concorrer ao governo de São Paulo em 2018.
Antes de assumir o cargo na Esplanada dos Ministérios, Marta ocupou o cargo de primeira vice-presidente do Senado. Esse mesmo posto atualmente está nas mãos do senador Jorge Viana (PT-AC), que pode ficar nele pelos próximos dois anos. Com 13 cadeiras, o PT continuará a ter a segunda maior bancada da Casa, atrás do PMDB, e deverá ficar com o comando da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), a segunda mais importante do Senado. Se não ceder a vaga a partidos aliados, o PT também pode presidir uma segunda comissão, como ocorre atualmente com a de Direitos Humanos (CDH).
Um proeminente senador do PT disse ao Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, que, mesmo a bancada não tendo se reunido, a ministra não terá assegurado um lugar de destaque cativo na Casa. "Ela (Marta) pode até criar muitos conflitos, mas não vai chegar e sentar na 'janelinha' não", avisou ele, ao ponderar que há outros parlamentares da bancada "na fila" pelos principais cargos que cabem ao PT no Senado. O senador frisou que ela só assumiria a CAE, por exemplo, "se ninguém tiver interesse".
Por outro lado, uma ala da bancada defende que Marta precisa se manter em evidência política tanto por sobrevivência pessoal como para melhorar o péssimo desempenho do PT nas eleições de São Paulo neste ano. Tanto aliados como desafetos dizem que a ministra poderia ter tido uma atuação mais vigorosa na campanha de Alexandre Padilha ao governo estadual, cargo para o qual foi preterida por opção de Lula. Além da dura derrota na eleição presidencial, o PT também viu o número de eleitos para a Câmara dos Deputados e Assembleia Legislativa diminuir e não reelegeu o senador Eduardo Suplicy (SP), após três mandatos consecutivos na Casa.A petista terá ao seu lado na bancada de São Paulo dois integrantes do PSDB, Aloysio Nunes, candidato derrotado a vice na chapa de Aécio Neves (MG), e o senador eleito e ex-governador do Estado José Serra, conhecidos pela combatividade nos discursos. "Nós precisamos da Marta", resumiu um entusiasta da ministra do PT do Senado, ao reconhecer que, na própria bancada, há poucos quadros de peso político como a ministra.
Mesmo sem estar presente, Marta é tema recorrente das conversas. Na quinta-feira da semana passada, em encontro com senadores do partido sem a presença dela, Lula conclamou os presentes a "responder a tudo" o que for de crítica da oposição. O ex-presidente fez questão de citar nominalmente Aécio, Serra, o ex-presidente do PSDB e empresário Tasso Jereissati (CE) e o líder ruralista Ronaldo Caiado (DEM-GO) como importantes quadros de adversários políticos que estarão no Senado a partir de 2015.
Um senador presente chegou a comentar com Lula o fato de Marta não ter participado do encontro, mas ele despistou: "A Marta não está aqui porque está trabalhando." Lula reclamou a senadores do PT que, no primeiro mandato Dilma, a atuação da bancada foi muito dispersa e que, a partir de 2015, é preciso ter uma ação mais coesa.