O pré-candidato ao Governo de São Paulo pelo PSOL, Guilherme Boulos, se reuniu na manhã desta terça-feira (1º) com o ex-presidente Lula (PT). O tema da conversa foi o apoio do PSOL à candidatura do petista ao Planalto, segundo a reportagem apurou.
O encontro ocorre no momento em que a esquerda está dividida em São Paulo, já que o PT vai lançar o ex-prefeito Fernando Haddad para o Palácio dos Bandeirantes. Há ainda a pré-candidatura de Márcio França (PSB) no campo progressista.
A reunião foi tratada como um encontro informal entre Boulos e Lula -os presidentes do PT e do PSOL não participaram. Ficou acertado que haverá nova reunião, dessa vez com os dirigentes dos partidos, para deliberar também a questão das candidaturas em São Paulo.
Leia mais:
Xi Jinping dá pedaço da Lua a Lula em jantar no Itamaraty
Moraes marca depoimento de Cid no STF após PF apontar omissões de militar
Projeto de concessão da Praça da Juventude da ZN de Londrina é arquivado
CPI das Bets convoca Deolane, Wesley Safadão e Jojo Todynho
No encontro, Boulos relatou a Lula suas críticas públicas à escolha do ex-governador Geraldo Alckmin (sem partido) como possível candidato a vice-presidente do petista. O psolista ouviu como resposta que a eleição deste ano será dura e, por isso, é preciso ampliar alianças.
"Hoje conversei com meu amigo Guilherme Boulos sobre a situação do país e os próximos passos da caminhada para recuperarmos um governo democrático e um projeto social e soberano para o Brasil", escreveu Lula em suas redes sociais.
"Agradeci o apoio e parceria do PSOL nos últimos anos e salientei a importância do partido não só na disputa eleitoral, mas no desafio de governar e construir um Brasil mais justo e solidário", completou.
De acordo com políticos próximos a Lula, o ex-presidente conversou com Boulos sobre os apoios de partidos que tem buscado para a sua candidatura e quis saber sobre a situação no PSOL. O partido definiu por 56% a 44%, em um congresso realizado em setembro passado, que iria apoiar a campanha do PT e não iria lançar candidato próprio ao Planalto.
O PSOL tem, no entanto, exigências para o programa de governo petista, como a inclusão de pautas de esquerda -a revogação de reformas e do teto de gastos, a implementação de uma reforma tributária, políticas ambientais, entre outros.
Boulos afirmou ao ex-presidente que a aliança poderia avançar a partir de fevereiro, quando o PSOL fará uma reunião de sua comissão executiva para tratar dessas questões programáticas.
O presidente do PT de São Paulo, Luiz Marinho, acompanhou a conversa. Segundo ele afirmou à reportagem, a reunião tratou da conjuntura nacional, sobretudo da gravidade da crise econômica, e do cenário eleitoral para o Planalto -falaram sobre cada região do país e sobre as dificuldades na formação de federações.
Como mostrou o jornal Folha de S.Paulo, o PT pretende integrar uma federação com PSB, PC do B e PV, mas as disputas estaduais são um entrave para a aliança.
A respeito de alianças, Marinho afirmou que "ficou clara a intenção do PSOL de apoiar Lula". Apesar das críticas de Boulos a Alckmin, membros do PSOL já haviam admitido que o apoio da sigla se manteria mesmo nessa condição.
Marinho afirmou que a divisão em São Paulo foi tratada de modo superficial e que não há nova conversa marcada sobre isso. Interlocutores de Lula dizem que não caberá ao ex-presidente acertar detalhes de eventual negociação para uma candidatura única.
"Respeitamos os partidos que tenham candidato em São Paulo e é o caso do PSOL. A decisão do PSOL até aqui é de ter candidato. O combinado é o apoio no segundo turno. Se em algum momento o PSOL fizer uma reflexão diferente, vamos conversar", disse o presidente do PT paulista.
Enquanto Lula fez um gesto de aproximação com o PSOL, o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ), que prega uma candidatura própria do partido ao Planalto, também abordou o tema nas redes sociais nesta terça.
O partido deve marcar uma conferência eleitoral, em março ou abril, para colocar em votação novamente o apoio da sigla ao PT.
"A conferência do PSOL vai decidir se o partido lança pré-candidatura ou apoia Lula no 1º turno. Eu fui indicado por 44% do partido pra essa tarefa. Hoje, não estou vendo movimentação entre os 56% que venha a modificar a decisão deles de abrir mão da candidatura própria", escreveu.
"Eu me mantenho firme, à disposição de camaradas que me indicaram pra debater o nosso programa, até o momento que acharem necessário", seguiu. "Depois de muito refletir, no recesso, a decisão é não ser candidato a reeleição pra deputado. Se o PSOL não tiver candidatura presidencial, sigo militando na base pra derrotar a extrema-direita e em defesa do socialismo."
Como mostrou a Folha de S.Paulo, Lula pediu o encontro com Boulos em meio a conversas entre petistas e psolistas a respeito das campanhas de Haddad e do líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto).
Ainda nesta semana, Boulos deve se reunir com França, que também é peça-chave no impasse da esquerda em São Paulo.
A avaliação entre membros do PT e do PSOL é a de que o cenário ideal seria a unificação das candidaturas ao Governo de São Paulo para evitar a fragmentação dos votos progressistas. Com a direita bolsonarista dividida e o candidato do PSDB, Rodrigo Garcia, sem destaque nas pesquisas, os partidos veem uma chance inédita para a esquerda no estado.
As negociações estão em aberto, e os dois pré-candidatos mostram disposição para o diálogo. No entanto, membros de PT e PSOL mantêm o discurso de que ambas as candidaturas serão levadas até o final e admitem que o apoio mútuo pode ficar apenas para o segundo turno.
Lula já indicou seu compromisso com Haddad, com quem se reuniu na quinta-feira (27). "Eu acho, com toda modéstia, que o PT nunca esteve tão próximo de ganhar o governo do estado, como está agora", disse em entrevista a sites de esquerda neste mês.
Petistas veem a candidatura de Haddad como a mais consolidada e com mais chance de vitória no campo da esquerda. Com o ex-prefeito à frente dos demais progressistas nas pesquisas, o PT não vê sentido em abrir mão dele por uma eventual federação partidária com o PSB ou para abrir espaço para Boulos.
Petistas ouvidos pela reportagem dizem respeitar o direito de Boulos de ser candidato, mas veem nisso um erro político. Havia a expectativa de que Lula e Boulos tratassem de condições para a unificação das candidaturas nesta terça.
Uma opção aventada é a de que Boulos tente uma cadeira na Câmara dos Deputados, tenha cargo num eventual governo Lula e garanta um acordo de apoio do PT para concorrer à Prefeitura de São Paulo em 2024 -ele terminou em segundo lugar em 2020.
Nesse cenário, o PSOL tentaria obter uma vaga na coordenação da campanha de Haddad, garantindo um protagonismo da sigla, além de espaço na participação da construção do programa de governo. Ainda não estaria definido se o partido indicaria um nome para compor a chapa com Haddad ou até mesmo a vaga do Senado.
A preocupação de ampliar a bancada do PSOL na Câmara é uma questão considerada para quem defende a desistência de Boulos tanto entre petistas como entre psolistas -principalmente após a saída de nomes que tinham votações expressivas, como o deputado federal Marcelo Freixo (RJ), que migrou para o PSB.
O argumento é o de que, como candidato a deputado, além de Boulos fortalecer a bancada, teria visibilidade para se alçar à prefeitura em 2024.
No PSOL, contudo, há parlamentares que defendem que Boulos contribuiria mais para o crescimento do partido se concorresse ao governo. A sigla entende a candidatura própria no principal colégio eleitoral do país como crucial para sua sobrevivência.
Dirigentes do partido afirmam que Boulos é competitivo, vence na capital e pode crescer na medida em que se tornar conhecido.