Foi no meio da maior concentração de cientistas, intelectuais e artistas que um candidato a presidente conseguiu reunir nesta campanha, que Luiz Inácio Lula da Silva fez a sua sabatina ontem à tarde, no restaurante Porcão Rios, no Rio de Janeiro. Logo depois de, orgulhosamente, pronunciar a expressão latina sine qua non Lula se dirigiu a Chico Buarque de Holanda, sentado na segunda fila: ''Chico, você se lembra do tempo em que eu falava menas laranja?'' perguntou a Chico, que, sorridente, fez sinal de aprovação.
Lula, que é constantemente cobrado por querer ser presidente sem ter diploma universitário, aproveitou para responder aos críticos: ''Quem consegue reunir em torno de si esta constelação, não precisa de canudo. Vocês serão o diploma do meu governo'', disse, ovacionado.
De Zeca Pagodinho a Antônio Cândido, de Neguinho da Beija-Flor a Evandro Lins e Silva, de Nelson Sargento a Celso Furtado, o evento reuniu cerca de 400 pessoas. O discurso descontraído de Lula não teve só tiradas bem-humoradas e agradecimentos. A turma da área cultural levou um sutil puxão de orelhas: ''O pessoal do cinema costuma pedir apoio para a sua área. O do teatro, também. Cada um quer mais verbas e vantagens para o seu setor. E, às vezes, a coisa pára por aí. Mas a minha concepção de política cultural vai muito além disso. O Vale do Jequitinhonha, em Minas, é paupérrimo, mas é riquíssimo culturalmente. O que eu quero é dar chance a todo o povo brasileiro para exercer seu talento e criatividade'', afirmou.
O teatrólogo José Celso Martinez Corrêa não perdeu a chance de fazer uma performance. E provocou frisson no auditório, quando, depois de fazer críticas a ações da prefeita Marta Suplicy, em São Paulo, disse que ainda não estava certo de que iria votar em Lula. Diante da surpresa da platéia, o teatrólogo afirmou que jamais teve medo de provocar mal-estar por dizer o que está pensando. Mais tarde, disse que ''desejava muito'' poder votar no candidato do PT. ''Vota, vota, vota'', reagiu a platéia bem-humorada. Tudo acabou com um longo abraço entre Lula e o teatrólogo.
A atriz Marieta Severo, sentada a cerca de cinco metros de Chico Buarque, elogiou Lula: ''Ele sempre consegue fazer a gente vibrar junto com ele''. Alessandra Negrini, que nunca havia participado de um evento desse porte, disse que ficou emocionada com ''a verdade contida no discurso de Lula''.