O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou, em entrevista ao jornal francês Libération, a condução da política de incentivos fiscais da presidente afastada Dilma Rousseff. Ele afirmou também acreditar na volta da petista ao poder e disse que, se as políticas sociais dos governos petistas estiverem ameaçadas, poderá disputar a eleição de 2018. A entrevista foi publicada na edição desta quarta-feira, 13.
"Ao fim do primeiro mandato de Dilma, o desemprego era ainda muito baixo (6,5% na época, contra 11,2% em abril deste ano). Ela havia conseguido manter o emprego ao mesmo tempo em que manteve as políticas sociais. Mas era necessário continuar a investir. Os cofres estavam vazios. Dilma reconhece que sua política de desoneração fiscal para as empresas, que reduziu a receita fiscal do Estado, havia ido longe de mais. Entre 2011 e 2015, o Estado renunciou a cerca de R$ 500 bilhões de receitas. E, um fato extremamente grave, sem exigir nada em troca do empresariado", afirmou.
O ex-presidente responsabilizou também o Congresso Nacional por impedir que as medidas do ajuste fiscal propostas por Dilma fossem aprovadas. "Depois da reeleição de Dilma, houve uma forte crise política que paralisou a economia", disse. "Para reequilibrar as contas, ela tentou reduzir as despesas, mas o Congresso foi no sentido do inverso, aprovando leis para aumentá-las. O Congresso parecia apostar na crise, até que surgisse a ideia de golpe."
Questionado se o presidente em exercício Michel Temer é golpista, Lula respondeu que o primeiro a facilitar o golpe foi o Congresso por receber a queixa contra Dilma. Temer, porém, segundo Lula, é "um constitucionalista que sabe que não houve crime de responsabilidade".
O petista afirmou que não lamenta ter escolhido Dilma como sua sucessora, como teria dito o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) em uma conversa gravada. "Ele me ligou para desmentir", disse Lula. Ele afirmou que não apenas indicou Dilma, mas voltou a apoiá-la.
Segundo Lula, não se pode dizer que Dilma tenha falhado no segundo mandato. "Faltavam ainda três anos, ela poderia ter feito muita coisa."
Corrupção
Sobre acusações de que o caixa do PT teria sido abastecido com dinheiro da Petrobras, o ex-presidente afirmou que será fácil para a Receita Federal apurar as denúncias. Os partidos, disse ele, não vão buscar dinheiro de campanha em favelas, mas onde ele existe, ou seja, com diretores de empresas. Disse que por causa disso seu partido defende o financiamento público de campanha: "Impõe-se uma profunda reforma política". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.