Política

Indo contra a Ciência, Bolsonaro diz que não vai se vacinar por já ter tido Covid

14 out 2021 às 09:52

O presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) disse na última terça (12), em entrevista à rádio Jovem Pan, que não vai se vacinar contra a Covid. A decisão seria por ele já ter sido infectado pelo coronavírus no passado e, portanto, ter anticorpos contra o vírus.


Em fala anteriores, Bolsonaro afirmara que se vacinaria somente após o último brasileiro receber o imunizante contra Covid.


Nesta terça, porém, Bolsonaro argumentou que possui níveis elevados de anticorpos no sangue após ter tido a doença e que seria como "apostar R$ 10 na loteria para ganhar R$ 2". "Eu decidi não tomar mais a vacina. Eu estou vendo novos estudos, a minha imunização está lá em cima, para que vou tomar a vacina? Seria a mesma coisa que você jogar R$ 10 na loteria para ganhar R$ 2. Não tem cabimento isso", disse.


Os estudos científicos mostram, porém, que a proteção conferida pela vacinação tende a ser maior do que a obtida após uma infecção natural.


Estudos produzidos nos Estados Unidos com as vacinas de RNA mensageiro da Moderna e Pfizer, tecnologia que ofereceu a maior proteção contra a Covid nos ensaios clínicos, apontam que a imunidade pode durar anos.


Além disso, pesquisas que avaliaram os tipos e a duração da resposta imunológica gerada após uma infecção natural demonstraram elevadas taxas de anticorpos anti-Sars-CoV-2 nos primeiros meses, mas com um decaimento natural até oito meses pós-infecção.


Já a resposta dada pelas chamadas células de defesa, como os linfócitos T e as células CD8, responsáveis por combater o vírus, parece durar por mais tempo, embora não seja possível medi-la com exames sorológicos de rotina.


Um dos estudos, liderado pelo brasileiro Michel Nussenzweig, da Universidade Rockfeller, em Nova York, apontou para um aumento significativo dos anticorpos e das células B (responsáveis por produzir anticorpos) em pessoas infectadas que receberam as vacinas de RNA. Essa taxa, inclusive, foi mais alta do que nos chamados indivíduos "naive", que não tiveram infecção no passado e foram vacinados com as duas doses.


Em relação às vacinas, algumas pesquisas de efetividade seis meses após o início da vacinação sugerem um decaimento também natural da taxa de anticorpos. Essa queda, no entanto, não vale para a proteção contra hospitalizações e mortes, que continua elevada.


Até o momento, os estudos demonstraram que a proteção contra casos graves e mortes de qualquer vacina contra a Covid tende a ser maior do que a proteção contra infecções. Isso significa que mesmo pessoas que já tiveram Covid no passado ou que tomaram as duas doses podem ainda se infectar, mas os casos tendem a ser leves e o risco de hospitalização, bem menor do que sem a vacinação.


Além disso, a vacinação deve ser entendida como um pacto coletivo, defendem os especialistas, uma vez que a taxa de cobertura vacinal necessária para conseguir diminuir a propagação do vírus e controlar a doença varia de 75% a 80%.


Em relação aos chamados recuperados, ainda há poucos dados sobre o que exatamente provoca uma resposta imune forte e duradoura, uma vez que isso varia enormemente em relação à idade, ao tipo de infecção (leve, moderada, grave, muito grave), à condição de saúde do paciente e a outras doenças preexistentes, entre outros fatores.


O que as pesquisas indicam até agora é que, sim, uma parcela considerável de pessoas que tiveram a doença no passado apresenta algum tipo de proteção, mas a nível populacional é impossível tirar conclusões de proteção.


Ainda, especialistas veem como impossível atingir a chamada imunidade de rebanho natural devido ao surgimento de novas variantes capazes de escapar dessa resposta imune, como a delta. Casos de reinfecção por variantes do vírus foram registrados em diversos lugares do mundo após uma infecção prévia, sugerindo que essa proteção não seria suficiente para as novas formas.


Assim, esperar uma imunidade coletiva natural por infecção pode, além de ter uma consequência direta sobre novas hospitalizações e mortes, levar a uma proteção naqueles que se recuperam mais baixa do que nos indivíduos vacinados. Há ainda os efeitos da chamada Covid longa, que são muitas vezes imprevisíveis e desconhecidos até meses depois da suposta recuperação.

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