Foram sessões intermináveis, discursos inflamados, deputados passando mal, deputados sumindo e reaparecendo, confusões e agressões até a votação do primeiro projeto de iniciativa popular da história da Assembléia Legislativa do Paraná. No final, as 120,9 mil assinaturas do projeto popular foram derrubadas por 27 votos que decidiram contra o projeto e pela privatização da Companhia de Energia do Paraná (Copel).
Com a decisão, sem se contar com a possibilidade de uma luta jurídica contra a sessão e contra a privatização, a Copel deve ser vendida no dia 31 de outubro, como já afirmou o governo do Estado. O governo tem 31% da participação acionária da empresa que possui 18 usinas hidrelétricas no Paraná.
A Copel tem 2,8 milhões de usuários que atende produzindo 4,5 mil megawatts de energia que passam por uma teia formada por 6,5 mil quilômetros de linhas de transmissão e outros 150 mil km de linhas de distribuição.
O preço mínimo para a venda da estatal ainda não foi estabelecido. Fontes de dentro do governo estadual afirmam que este preço deve ficar em torno de R$ 9 bilhões. Especialistas em energia afirmam que este mesmo preço deveria ser três vezes superior a isso.
A sessão iniciada nesta segunda-feira, teve poucas surpresas se comparada à de terça-feira da semana passada. Há uma semana, alguns deputados reviram seus votos e mudaram de lado, causando certo risco para a ala governista que acreditava em uma vitória fácil. As primeiras previsões diziam que o governo teria 30 votos contra 23 votos dos deputados que querem manter a Copel sob a gerência do Estado. Antes mesmo de se começar a sessão já havia deputado declarando a mudança de voto. No meio da tumultuada sessão, refez-se a contagem e o governo descobriu que a votação dependia da posição de dois deputados: Luis Fernandes Litro (PSDB) e Custódio da Silva (PFL).
Litro foi um dos que mudou de opinião, mas sofria a pressão dos colegas do PSDB que cobravam dele uma posição contra a privatização. Custódio se dizia pessoalmente contra a privatização, mas que votaria a favor, mas ainda estava consultando as bases. Com essas incertezas, o governo substituiu Custódio, que era suplente, pelo titular da cadeira, o secretário Nelson Justus (PTB). Para assumir, Justus deixou a secretaria de Estado dos Trasnportes por alguns dias, o tanto de tempo necessário apenas para votar. Litro, que na semana passada havia sido internado com problemas cardíacos, compareceu à sessão iniciada nesta segunda-feira, apenas para votar e ficou "escoltado" pela liderança do governo para não ser mais assediado.
A sessão foi iniciada com alguns minutos de atraso e o movimento acontecia, desta vez, muito mais do lado de fora da Assembléia do que no plenário. A bancada que votava a favor do projeto popular se revezava nos discursos tentando retardar a votação e questionando várias decisões do presidente da mesa diretora, Hermas Brandão. Segundo esses deputados, Nelson Justus não poderia substituir Custódio da Silva porque a sessão seria a mesma já iniciada na semana passada com a presença de Custódio. O presidente Hermas Brandão, no entanto não acatou a reclamação e afirmou que esta seria uma nova sessão e que Justus, portanto, poderia participar. Os parlamentares contrários à privatização prometem recorrer à Justiça contra esta decisão.
A votação foi feita nominalmente e o primeiro deputado a ser chamado foi Élio Rusch (PFL) que deu seu voto contra o projeto. O último nome a ser chamado, exatamente às 23h53, foi o deputado Plauto Miró (PFL) que também votou contra. Em seguida, o presidente da casa leu o resultado da votação e declarou arquivado o projeto.