Dados preliminares do Estudo Painel do Eleitor Brasileiro, elaborado para o Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação, apontam para mudança no comportamento de parte do eleitorado brasileiro e a adesão a valores considerados conservadores.
O estudo mediu predisposições e percepções do eleitorado sobre diversos temas, inclusive questões morais como diversidade, aborto, LGBTI, ensino de religião nas escolas e combate ao crime. "O que os dados sobre esses temas, em geral, favorecem a candidatura de Jair Bolsonaro", assinalava Lucio Remuzat Rennó Junior, professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), antes da vitória do candidato do PSL.
O painel, ao qual a Agência Brasil teve acesso parcial em apresentação durante a 42ª Reunião Anual da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciências Sociais (Anpocs), em Caxambu (MG), foi elaborado com informações colhidas durante três momentos junto aos mesmos eleitores.
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Em março, antes da campanha eleitoral e da descompatibilização de cargos, com dados da pesquisa A Cara da Democracia no Brasil. Na primeira quinzena de agosto, antes do registro dos candidatos nas eleições. Em outubro, após a votação de primeiro turno.
Segundo Rennó, que também preside em Brasília a Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), ligada ao governo local, "percebe-se claramente e é consistente de março para cá uma predominância de visões conservadoras". Para o acadêmico, "há um florescimento de um pensamento conservador".
"O que me parece que está havendo é uma depuração do voto da direita", diagnostica o cientista político assinalando o enxugamento da votação do PSDB. "O eleitor que ficou com o [Geraldo] Alckmin é um eleitor mais claramente social-democrata e liberal nos costumes". Segundo análise inicial, o comportamento do eleitor Bolsonaro se diferencia mais do votante tucano do que dos eleitores de Ciro Gomes (PDT) e até de Fernando Haddad (PT).
O Estudo Painel do Eleitor Brasileiro, que está em sua terceira edição sobre eleição nacional (as primeiras pesquisas ocorreram em 2010 e 2014), teve a participação de pesquisadores da UnB, UFMG, Uerj, Unicamp, e a colaboração de especialistas da UFSC e da Universidade Estadual de Londrina na elaboração do questionário.
Os dados ainda não tiveram a publicação definitiva. A publicação final é prevista para o mês de novembro. A equipe trabalha na especificação do modelo estatístico utilizado e na realização dos testes de consistência interna para demonstrar o grau de confiabilidade dos dados apresentados.
Além do comportamento de eleitores de Bolsonaro sobre questões morais, a versão final do estudo permitirá perceber o efeito das novas mídias sobre os eleitores; a influência das entrevistas e debate de TV; e se e como se deu a transferência de votos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para Haddad.