Política

Empresário diz em delação que doações legais ao PT foram pagamento de propina

22 jul 2016 às 09:26

O engenheiro Zwi Skornicki, preso na 23ª fase da Operação Lava Jato, disse ontem (21) que as empresas Keppel Fels e Technip fizeram doações eleitorais registradas ao Partido dos Trabalhadores (PT) como parte da propina acertada por contrato firmado com a Petrobras para construção da plataforma P-56. Skornicki prestou depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, em acordo de delação premiada celebrado com o Ministério Público Federal (MPF).

A afirmação foi feita quando Moro perguntou a Skornicki como eram feitos os repasses de dinheiro ao PT. "Na P-56, como houve doações legais da propina, teve a participação do Frédéric Delormel [presidente da Technip], que organizou como fazer essas doações legais ao partido", relatou o engenheiro, que é representante no Brasil do estaleiro Keppel Fels.


Em 2002, a Technip e a Keppel Fels se uniram em um consórcio, a FSTP, que venceu, no ano seguinte, a licitação da Petrobras para a construção das plataformas P-51 e P-52. Skornicki conta que havia acertado com o consultor Raul Schmidt Felippe Júnior o pagamento de propina à Petrobras para garantir que o consórcio venceria a licitação.


Segundo o engenheiro, na véspera do envio das propostas pelas empresas, Schmidt entregou a ele uma cópia do orçamento que a Petrobras pretendia pagar à empresa vencedora. Schmidt foi preso em março, em Portugal, e aguarda extradição para o Brasil.


"O valor que tinha sido proposto era de 0,6% para a P-51 e de 0,7% para a P-52", contou. Segundo ele, a propina era destinada a pessoas da Petrobras: "[Schmidt] não me disse os nomes, porque ele queria manter isso em segredo. Era o trabalho dele". O engenheiro calcula que o valor dos pagamentos referentes a essas plataformas foi de, pelo menos, US$ 9 milhões.


Plataformas P-56 e P-58


Segundo o engenheiro, no caso dos contratos para a realização das plataformas P-56 e P-58, o intermediário das propinas passou a ser o ex-gerente de serviços da Petrobras Pedro Barusco.


"Ele disse que eu teria que atender também às necessidades do PT. Ficou combinado que seria de 1% a comissão, 0,5% ficaria para o grupo dele e os outros 0,5% para o partido", relatou o delator, que disse também ter sido apresentado ao ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto por Barusco.


Os pagamentos ao PT, segundo Skornicki, eram feitos através de uma conta-corrente aberta no exterior para pessoas indicadas por Vaccari. "Uma das pessoas foi a Mônica [Moura, esposa do publicitário João Santana]. Foram pagos US$ 5 milhões a ela, em dez parcelas de US$ 500 mil".


Hoje, também em depoimento a Moro, Mônica Moura disse que os pagamentos efetuados por Skornicki foram utilizados como caixa 2 da campanha eleitoral de 2010 do PT.


Navios-sonda


No depoimento desta quinta-feira, Zwi Skornicki também confirmou que houve pagamento de propina para que a Keppel Fels fechasse contrato com a Sete Brasil para a construção de seis navios-sonda. De acordo com o relato, propina exigida era de 1,2%, mas a empresa de Singapura só aceitava pagar 0,9%. Segundo ele, Barusco aceitou a proposta com uma condição: "Ele me disse que tinha feito todo esse trabalho sozinho, e pediu pra que eu pagasse mais 0,1% por fora, sem conhecimento das partes. Assim foi feito".


Moro também perguntou ao engenheiro por que motivo a Keppel Fels aceitou continuar pagando propina em novos contratos com a Petrobras e com a Sete Brasil, em vez de simplesmente participar das licitações. Skornicki respondeu: "Pra não termos nenhum embaraço durante as obras, nenhuma interferência. Para não atrapalhar, essa é a verdade. E aí, realmente ficou como se fosse uma coisa corriqueira. Acabou ficando um troço tão intrínseco, tão automático", acrescentou.


Outro lado

O ex-tesoureiro do Partido dos Trabalhadores João Vaccari Neto, preso em abril do ano passado, também foi levado a depor hoje na 13ª Vara Federal de Curitiba, mas optou por permanecer em silêncio.

O PT divulgou uma nota contestando os depoimentos de Zwi Skornicki e Mônica Moura. Segundo o comunicado, "todas as operações do PT foram feitas dentro da legalidade. As contas da campanha eleitoral de 2010 foram, inclusive, aprovadas pela Justiça Eleitoral".


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