Documentos entregues ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) pelo contador José Wilson de Souza, contratado para avaliar a situação financeira da oficina Providence Auto Center, de Cambé (Região Metropolitana de Londrina), revelam que o empresário Luiz Abi Antoun, parente distante do governador Beto Richa (PSDB), investiu, entre março de 2013 e abril de 2015, mais de R$ 500 mil na Providence, incluindo a reforma do prédio, compra de equipamentos e despesas gerais. Trata-se de mais uma evidência da operação Voldemort de que Abi era o dono de fato da oficina e que Ismar Ieger, que sempre trabalhou como mecânico, era um laranja do empresário.
Conforme depoimento do contador aos promotores do Gaeco, prestado em 16 de março, data da prisão de Abi e dos outros envolvidos na fraude para a contratação emergencial da Providence para prestar serviços de manutenção de veículos do Estado no Norte do Paraná - especialmente viaturas das polícias civil e militar -, as transferências de recursos à Providence eram sempre feitas em dinheiro e por meio da KLM, empresa de propriedade de Abi e de Roberto Tsuneda, outro réu no caso.
Souza contou que "sempre soube que Abi realizava todos os investimentos e todos os pagamentos desta empresa", mesmo estando a Providence registrada em nome de Ieger. Também disse que "viu, em várias oportunidades, que Ieger realizava pagamentos da Providence em dinheiro, dinheiro este que era repassado por Tsuneda", acrescentando que jamais a KLM repassou cheques à oficina mecânica. Segundo seu depoimento, "o advogado Lucca esclareceu que Abi realizava todas as entregas, em dinheiro, a Tsuneda", incumbido de fazer os pagamentos para a Providence.
As declarações do contador reafirmam o que os denunciados conversavam por telefone, conforme escutas autorizadas pela 3ª Vara Criminal de Londrina e já revelado pela FOLHA. Em 4 de fevereiro, por exemplo, Tsuneda diz a Abi que Ieger precisa de dinheiro para pagar contas, inclusive para pagar uma motocicleta adquirida pela Providence. Abi responde a Ieger: "Viu, duzentos, cem reais, não regula muito não, tá? Se não desanima o cara..."
O contador disse ainda que foi contratado pelo advogado José Carlos Lucca, a pedido de Abi, para fazer uma relatório da "saúde financeira" da Providence, que havia acabado de firmar o contrato emergencial com o Estado no valor de R$ 1,5 milhão por até 180 dias. Souza entregou aos promotores cópias de documentos e e-mails enviados por Tsuneda que confirmam o repasse de valores da KLM para a Providence.
Outro trecho do depoimento do contador que confirma o que as escutas telefônicas já haviam revelado é que a intenção do grupo era permanecer prestando serviços ao Estado mesmo após o final do contrato emergencial. A Providence seria subcontratada pela JMK, empresa que venceu licitação de R$ 57 milhões para prestar serviço de manutenção da frota em todo o Paraná. O principal articulador da subcontratação seria o então diretor do Departamento de Transporte Oficial (Deto), Ernani Delicato, conforme já publicado pelo FOLHA.
Segundo Souza, Ieger teria lhe afirmado que "estava sendo pactuado entre os representantes legais da JMK e da Providence para que a Providence prestasse serviços para a JMK". Na relação de oficinas contratadas, publicada no site da Secretaria de Administração e Previdência (Seap), não consta o nome da mecânica de Cambé.
KLM
A KLM é uma das empresas de Abi. Seus dois filhos – Kouthar Abi Antoun e Nemer Abi Antoun – são sócios da KLM e o próprio Abi fez parte da sociedade até 2012. Nemer é representado na sociedade pela sua mãe Eloiza Fernandes Pinheiro Abi Antoun. Ela é a atual vice-presidente da Sercomtel, por indicação da Copel, empresa que é sócia da companhia telefônica londrinense com 45% da ações.