A direção da Detroit Motores, que está sendo investigada pelo Ministério Público Estadual, negou mais uma vez qualquer irregularidade na negociação de um terreno na Cidade Industrial de Curitiba (CIC). Ele foi dado como garantia de um empréstimo de US$ 10 milhões do Fundo de Desenvolvimento Econômico (FDE), do governo do Estado. O procurador chefe da Promotoria de Investigação Criminal (PIC), Dartagnan Abilhôa, anunciou no mês passado, que iria pedir a quebra do sigilo bancário da empresa.
De acordo com o diretor geral da Detroit, Adolfo Soifer, "a negociação que envolveu a Detroit Diesel Motores do Brasil foi feita com a observância dos ditames legais e através de escrituras públicas, o que significa que as mesmas estão à disposição de quem tenha interesse em conhecer o seu conteúdo, razão pela qual não poderíamos admitir que se veiculem informações incorretas em detrimento da realidade dos fatos, causando prejuízo moral e material para a Detroit Diesel Motores do Brasil Ltda."
Em março, o servidor municipal Roberto Rocha acionou o Ministério Público Estadual para denunciar que em 1997, a Detroit conseguiu um empréstimo de US$ 10 milhões do governo. Em troca, segundo ele, a empresa ofereceu um terreno de apenas R$ 18 mil como garantia. Rocha disse que o imóvel só passaria de fato para a Detroit em fevreiro de 1998, um ano depois do financiamento, que será pago em parcela única, sem juros e correção monetária, em 2007.
A direção da empresa, em carta à redação, repudiou as informações, garantindo que as acusações de Rocha não se sustentam. Soifer disse no documento que além do terreno, a empresa apresentou outras garantias como "todas as benfeitorias construídas, o maquinário importado para a fabricação de motores e os próprios motores. Portanto, não há que se dizer que como "garantia de um empréstimo de R$ 10 milhões teria sido dado um imóvel comprado por R$ 18 mil", pois o valor de mercado do imóvel não é de R$ 18 mil, da mesma forma com que a garantia não se restringe ao imóvel, mas como já dito a todas as benfeitorias, frutos, maquinário, etc."
Quanto a origem do imóvel, de 30 mil metros quadrados, a direção da Detroit informa que ele foi adquirido da Companhia de Desenvolvimento de Curitiba (CIC), ligada à Prefeitura da Capital, pela empresa Pró-Higiene Indústria e Comércio de Produtos Higiênicos em novembro de 1993. O preço pago à vista pela Pró-Higiene, com 15% de desconto, foi de CR$ 50.901.570,00 (em 1993 o valor do metro quadrado era de CR$ 1.996,14). Dois anos depois, em dezembro de 1995, a Pró-Higiene, com autorização da CIC, cedeu os direitos do imóvel para a Paese Participações Societárias (empresa do mesmo grupo).
A Paese promoveu "várias benfeitorias" no terreno, entre elas, uma edificação de 6,3 mil metros quadrados. Soifer lembrou que em fevereiro de 1997, a Paese "cedeu os direitos do contrato de compromisso de compra e venda para a Detroit, com anuência da CIC, com área construída de 6.385 m2." O valor de mercado do terreno é de R$ 3,1 milhões. Cerca de R$ 750 mil correspondem ao imóvel e R$ 2,3 milhões às benfeitorias.
Segundo o empresário, havia uma ação de desapropriação do antigo terreno da CIC transitada em julgado, o que obrigou a Prefeitura a subdividir a área, que englobava o terreno da Detroit, por meio do Projeto "Bolsão Fundiário". Respeitadas as etapas burocráticas de transferência de propriedade, o registro do imóvel em nome da Detroit saiu em 26 de fevereiro de 1998.