Vídeos do sistema de segurança da embaixada da Hungria, em Brasília, mostram que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) permaneceu na missão diplomática por dois dias após uma operação da Polícia Federal que apreendeu seu passaporte.
De acordo com o jornal New York Times, as imagens captadas mostram Bolsonaro em frente à missão diplomática no dia 12 de fevereiro.
Quatro dias antes, a Polícia Federal havia apreendido o passaporte de Bolsonaro, no âmbito de uma investigação que apura uma trama golpista liderada pelo ex-presidente para mantê-lo no poder apesar da derrota eleitoral para Lula (PT).
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O jornal americano diz que as câmeras mostram que Bolsonaro estava acompanhado de dois seguranças. Ele teria permanecido no prédio de 12 de fevereiro a 14 de fevereiro.
Um funcionário da embaixada da Hungria confirmou o plano de receber Bolsonaro na embaixada, segundo o New York Times.
Caso permanecesse dentro da missão diplomática, Bolsonaro não poderia ser alvo de uma ordem de prisão, por exemplo, por tratar-se de prédio protegido pelas convenções diplomáticas.
O ex-presidente é aliado próximo do líder da Hungria, Viktor Orbán, um dos principais expoentes da extrema-direita na Europa.
O que diz Bolsonaro
Bolsonaro disse nesta segunda-feira em discurso em São Paulo que frequenta embaixadas e conversa com embaixadores.
"Temos boas relações internacionais, como até hoje mantenho relação com alguns chefes de estado pelo mundo. Frequento embaixadas pelo país, converso com embaixadores. Tenho passaporte retido, se não estaria com Tarcísio e Caiado em viagem a Israel."
"Muitas vezes esse chefe de estado liga para mim, para que eu possa prestar informações precisas sobre o que acontece no Brasil", completou o ex-presidente em evento do PL, seu partido, na capital paulista.
Desde que passou à mira da Justiça após perder as eleições de 2022, o ex-presidente tem insinuado que sair do país poderia ser uma opção, mas que tal iniciativa está descartada por ora.
Extrema-dieita do leste europeu
A Hungria, um país pós-comunista de 10 milhões de habitantes, se tornou referência para conservadores em todo o mundo. Isso não aconteceu por acaso: foi uma política de Estado pensada meticulosamente por Orbán.
Em paralelo ao investimento do governo húngaro na construção de um soft power veio o desmonte da democracia húngara. O primeiro-ministro governa desde 2010 com uma maioria de dois terços do Parlamento, o que permitiu que ele aprovasse uma nova Constituição.
Institutos que medem a qualidade das democracias no mundo, opositores e jornalistas dizem que Orbán minou a independência do Judiciário, tomou conta do mercado de mídia, sufocou ONGs e universidades, aprovou leis contra minorias, como a comunidade LGBTQIA+ e os imigrantes, e redefiniu distritos eleitorais para favorecer o partido dele.