O ex-assessor de gabinete do deputado estadual Boca Aberta Junior (Pros) procurou o Ministério Público para mudar a versão dele sobre o suposto esquema de "rachadinha" e os desvios de kits escolares, que foram alvos de processos que correm na Justiça contra o parlamentar londrinense. Rubens Alves do Santos disse à FOLHA que teria sido obrigado a mentir pelo advogado do deputado durante interrogatório feito ao Gepatria (Grupo de Proteção ao Patrimônio Público e no Combate à Improbidade Administrativa) em 30 de abril do ano passado.
"Naquele dia eu iria depor sozinho, mas o advogado da família, junto com a Mara (vereadora Mara Boca Aberta, mãe de Matheus), disseram que não era para eu falar a verdade. O advogado pediu para falar que cada um fazia doação das cestas por vontade própria, mas não era vontade própria. Eles obrigavam a gente a doar as cestas. Éramos obrigados a fazer a doação uma vez por mês de uma caixa de leite e uma cesta básica, caso contrário a gente sofria ameaça de ser exonerado", disse Santos. Segundo a testemunha, a doação teria ocorrido principalmente em 2020, ano de eleição municipal. Naquela disputa, Mara Boca Aberta foi candidata a vereadora e o então deputado federal Boca Aberta concorreu a prefeito, tendo seu filho como vice na chapa.
Morador de São Jerônimo da Serra (Norte), Santos foi nomeado no gabinete do parlamentar em 2019 na Assembleia Legislativa, logo após a posse de Boca Aberta Jr. Já no mês de dezembro do ano passado, Santos foi exonerado do cargo comissionado na AL por outros motivos. Ele também citou que teria sido obrigado a mentir no mesmo depoimento aos promotores sobre os kits esportivos, que não teriam sido distribuídos integralmente pelo deputado às escolas cadastradas no programa da Paraná Esporte. "Eu vi num domingo que os kits estavam lá. Eles distribuíam bolas e materiais esportivos para outras pessoas."
O outro lado
Em nome da família, o ex-deputado federal Boca Aberta classificou a acusação de mais um episódio de "fake news". "É muito grave essa acusação. É mais uma mentira de mais um ex-colaborador. Por que ele não procurou o Ministério Público quando estava trabalhando aqui? Por que só procurou depois? Se ele é um cara correto e digno teria feito a denúncia quando estava nomeado no gabinete, tanto é que foi lá no Ministério Público dizendo que nunca existiu nada e só esperou ser mandado embora para mudar a versão."
Boca Aberta disse que o assessor trabalhava no período noturno. "Ele fazia o guarda noturno do gabinete (gabinete da zona norte de Londrina). Ele nunca viu nada mesmo porque não tinha nada de errado. Mesmo que houvesse, ele não saberia de nada porque não tinha contato com os demais colaboradores. Nunca houve rachadinha. Todos colaboradores doavam por uma vaquinha quando Deus tocava no coração e isso aconteceu durante três a quatro meses durante a pandemia para matar a fome do povo."
Procurada, a vereadora Mara Boca Aberta negou qualquer conversa com o ex-assessor sobre o depoimento ao Ministério Público. O advogado Guilherme Castanho afirmou por nota que "nós acreditamos que o Ministério Público deveria ser mais exigente com esse tipo de relato leviano, que não tem um mínimo de prova que seja condizente ou coerente com as acusações que são feitas, especialmente considerando que todas as testemunhas são ex-funcionários insatisfeitos e que receberam a promessa de trabalhar com outro ex-funcionário e que tem interesse político direto na difamação da família Boca Aberta, sob pena de transformar essa grande instituição num instrumento de oposição política".
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