Em conversa com a reportagem, o deputado estadual Arthur do Val (Podemos) afirmou que irá se afastar do MBL (Movimento Brasil Livre) e se defendeu de uma possível cassação na Assembleia Legislativa de São Paulo.
Arthur, que retirou sua pré-candidatura ao Governo de São Paulo, disse ainda que não pensou sobre seu futuro político e que, no momento, só está preocupado com o fim do seu namoro.
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Pergunta: Quando o sr. ficou sabendo do vazamento dos áudios?
Arthur do Val: Eu estava entrando no voo, de Viena para Frankfurt. Liguei no wifi do aeroporto e ligou uma pessoa querendo confirmar a autenticidade do áudio. Só que eu estava entrando no voo e perdi o wifi. Fiquei duas horas no voo. Só que quando eu saí desse voo, nós já saímos atrasados para o outro. Tinha que ter um atestado da Anvisa [declaração sobre Covid], que eu não tinha. Eu tive que entrar na internet pra pegar e preencher. Quando entrei na internet, meu celular, assim, parecia uma enxurrada de mensagem. Então foram 30 segundos que eu tive para dar uma olhadinha no que tinha acontecido e entrar no no segundo voo. Quando eu entrei, perdi o sinal.
Imagina, eu fiquei dentro do voo, sem sinal, olhando aquela enxurrada de mensagens no WhatsApp dizendo 'acabou'. Jornalista me perguntando. Nossa, foi o pior dia da minha vida.
P.: O sr. mandou esse áudio em que contexto e para qual grupo?
AV: Foi uma uma idiotice gigantesca que eu fiz. Estava há três dias em tomar banho, sem dormir, sem comer, sem beber, sem nada. Quando eu saí da Ucrânia e entrei na Eslováquia, o clima era outro, o clima era bom. As pessoas estavam felizes. Eu não eu não vou falar que era uma comemoração, mas é um alívio. As pessoas estavam entregando chá, café, comida, cobertor. Uns com os outros, gente tudo quanto era nacionalidade. E eu comecei a responder várias conversas, várias pessoas perguntando se eu estava bem.
Aí num grupo perguntaram: mas e aí, elas são bonitas? Aí eu mandei aqueles áudios. Eu nem sou aquela pessoa, esse é o problema. Eu perdi minha namorada por uma coisa que eu falei e eu não fiz. É uma sensação horrorosa. O erro foi meu, não foi do Renan, não foi do Kim, não foi do Rubinho.
P.: O sr. mandou os áudios para quais amigos?
AV: Mandei o áudio num grupo de futebol que não tem nada a ver com isso. Foi uma atitude imatura.
Eu não quero justificar isso como cancelamento ou politicamente correto, não. Eu errei. Ponto. Mas psicologicamente... E até no áudio eu misturo um monte de coisas. As coisas estavam tão misturadas na minha cabeça, que eu misturei tudo.
Existem dois tipos de pessoas que estão decepcionadas comigo e que estão me atacando. As pessoas hipócritas. Por exemplo, o Lula já falou coisas muito piores. Tem um cara que foi pego com dinheiro na bunda e beleza, né? E da mesma forma o Bolsonaro falou de fazer turismo sexual aqui. Muitas vezes eles querem dar demonstrações públicas de virtude sobre a desgraça dos outros.
Agora existe um outro grupo de pessoas que estão genuinamente decepcionadas comigo. Esse é que é difícil. É ruim de pensar porque essas pessoas não sabem o que aconteceu e elas não tem culpa de não saber. Quando os áudios vazaram, as pessoas tiveram a impressão de o Arthur foi para Ucrânia e está mandando um monte de áudio que ele está curtindo, que ele está se aproveitando de refugiadas em situação de vulnerabilidade. Isso machuca, porque não é isso.
No final do dia, sinto... Abrindo o coração pra você, tá? O que me ferrou mesmo, me tirou o chão, acabou comigo, foi [perder] minha namorada. Imagina ela ouvindo falar sobre essas coisas. Eu fiquei sabendo [do término] pela internet, mas eu até tomo cuidado ao falar isso, porque não é culpa dela. Não quero que escreva de uma forma que pareça: nossa, olha o que ela fez com ele. Eu sempre eu sempre fui acostumado a enfrentar meus oponentes e está tudo certo. Agora perder a namorada assim? Acertar no pessoal é fogo.
P.: O sr. já falou ou esteve com ela desde que chegou?
AV: Tentei, mas não quero [fazer] parecer que ela é uma pessoa cruel. Ela está no espaço dela, no tempo dela. Eu não quero falar mais nada, porque não tenho autorização de expor a vida de uma pessoa que não escolheu isso. Ela é enfermeira, ela não tem nada a ver com política, ela não tem nada a ver com as escolhas que eu fiz para mim. E ela está exposta por uma cagada minha.
P.: O sr. não considera que as pessoas estejam decepcionadas não por ter imaginado que o sr. fez turismo sexual, mas pelo conteúdo dos áudios em si?
AV: Sim, com certeza. Existem duas coisas. O erro existe. E existe a extrapolação do erro. Existem pessoas genuinamente decepcionadas comigo porque imaginam que eu fui fazer turismo sexual. Então é uma outra camada de problema ainda. Existe a camada do problema de coisas que eu não fiz e existe a camada de problemas de coisas que eu realmente fiz. Em nenhum momento eu tentei negar que mandei aqueles áudios.
Quando eu desci no Brasil, um cara já passou e me chamou de pedófilo. Eu falei meu Deus, meu Deus! O que que está acontecendo?
A maior parte das pessoas se decepcionou com um áudio que é real, que é meu. Eu tenho vergonha do que eu fiz.
P.: O sr. diz que não é essa pessoa [dos áudios], mas como uma pessoa que não é assim manda esses áudios?
AV: Nós temos um problema que é o seguinte: é um contexto. Eu ficar falando disso vai ficar parecendo que estou relativizando. Não tem perdão, não existe justificativa. Mas eu não sou uma pessoa que admira ou fala esse tipo de bobagem. As pessoas que convivem comigo sabem. Foi uma idiotice completa. Eu já estou num estágio... O que está me pegando mesmo é a questão dela [da namorada].
P.: O que o sr. imagina para sua carreira política no futuro? Ela está encerrada?
AV: Nem sei te responder isso. Estou com uma muralha na minha frente que me impede de fazer qualquer outra coisa. Eu não falo da minha vida pessoal, mas dessa vez não tem como.
Eu retirei a candidatura porque eu não tenho direito de atrapalhar ninguém. Não é justo que Rubinho, Kim, Moro paguem pelo meu erro. Eu desci do avião, já chegaram para mim e falaram: Moro já declarou publicamente que não te apoia mais.
P.: O sr. ficou chateado com ele?
AV: Lógico né? Nem viu o que tinha acontecido. E eu sou recebido com uma notícia dessa. Mas eu não julgo também, né? Mas eu não posso julgar. Uma coisa é a minha sensação. A outra coisa é o que é a realidade.
A minha sensação é de frustração, de tristeza da parte dele. Outra coisa são os fatos. E o fato é nós ainda temos um país que está aí na beira de ter Lula ou Bolsonaro. Se eu estou atrapalhando a missão [de Moro], será que eu não faria o mesmo [que ele fez]? Será que faria diferente? Eu hoje te falaria diferente.
P.: O senhor cogitou sair do MBL para preservar o movimento?
AV: Sim, eu vou fazer isso. E eles não sabem. Estou te falando agora. Não é justo que essas pessoas sofram a consequência de um erro só meu.
P.: O sr. vai se afastar ou vai sair de vez?
AV: Eu não sei. Eu só quero me afastar, eu só quero que as pessoas não sofram as consequências do que eu fiz.
P.: O sr. acha que vai perder o mandato e/ou vai ser expulso do partido?
AV: Sinceramente, eu não parei pra ver isso. Eu não pensei em nada.
P.: O sr. sempre foi um deputado que comprou brigas com colegas na Alesp, que não teve um grupo político. Esse isolamento agora cobra seu preço? Se fosse outro deputado, os colegas talvez relevassem?
AV: Se isso cobra o preço, é claro que sim. O Fernando Cury assediou de verdade a Isa Penna. Não é que ele mandou um áudio falando. E ele teve uma punição de seis meses. Eu vou ser cassado por um áudio? Houve o erro. Eu errei. Agora, é claro que parte dessa consequência política de cassação é por eu ser quem eu sou. Por eu ser solitário, um cara que nunca se misturou e sempre incomodou todo mundo.
Todo mundo queria um motivo para me cassar desde o dia um. E eu dei esse motivo, não pra me cassarem, mas dei um pretexto para falarem... Eles podem fazer isso. Claro que isso é péssimo.
Eu me arrependo disso? De jeito nenhum, não me arrependo do que eu fiz no meu mandato. Pelo contrário, tenho muito orgulho.