A fita de vídeo que mostra o lavrador Cícero Pedroso, 35 anos, dizendo que "inventou" ter visto o prefeito de Mariluz, padre licenciado Adelino Gonçalves (PMDB), numa conversa com um pistoleiro, deve ser esclarecida na Justiça. A afirmação é do advogado Cláudio Dalledone Júnior, que defende o padre-prefeito. Ele está preso em Curitiba desde março pela acusação de mandar matar duas pessoas. O advogado diz que o lavrador precisa depor de novo.
"Este senhor (Pedroso) já deu mostras de que está mentindo", disse Dalledone. A Folha publicou, neste domingo, reportagem sobre a existência da fita, produzida pelo radialista Alonso dos Santos. Amigo do padre, Santos se passou por repórter de um programa agropecuário para se aproximar de Pedroso, funcionário de uma fazenda em Luiziana.
Numa conversa reservada, sem saber que a câmera estava ligada, o lavrador diz que não viu o ex-sargento da PM José Lucas Gomes em conversa com Adelino alguns dias antes do crime. Gomes confessou ter atirado no presidente do PPS de Mariluz, Carlos Alberto de Carvalho, e no vice-prefeito Ayres Domingues (PPS).
O material mostra o radialista perguntando: "Você viu o cara?". Ao responder, Pedroso afirma: "Eu não, eu tava inocente". Em outro trecho, o lavrador diz que foi procurado pela mulher de Gomes para ir à polícia dizer que viu o padre. Maria Tonhato Gomes deu uma versão diferente na Justiça. Disse que o marido só se encontrou em 17 de fevereiro, 11 dias antes dos crimes, com o então secretário de Ação Social de Mariluz, Élcio de Farias. Ele também está preso e é acusado de ter interesse na morte de Carvalho, que era contra a permanência de Farias na administração e o investigava por fraudes no sindicato de agricultores de Rancho Alegre.
Pedroso também deu depoimentos aparentementes confusos à polícia e à Justiça. Na polícia, confrontado com uma fotografia do padre, ele afirmou "sem sombra de dúvida" de que tratava-se da mesma pessoa vista com o ex-sargento. Já em depoimento na Vara Criminal de Corumbataí do Sul, o lavrador disse que não poderia afirmar com absoluta certeza de que essa pessoa era o padre.
Procurado pela Folha, Pedroso manteve a versão inicial, mas suas afirmações foram contraditórias. "Muita gente viu o que eu vi, mas só eu não segurei a língua nos dentes. Por isso agora eu digo que não vi mais nada."