Regime de urgência
O presidente Lula (PT) chamou, nesta segunda-feira (21), o seu acidente doméstico de grave, mas disse que ele não afetou a parte mais delicada da cabeça. Ele afirmou ainda que a equipe médica precisa de três a quatro dias para saber o "estrago que fez a batida".
As declarações foram durante telefonema com o candidato do PT à Prefeitura de Camaçari (BA), Luiz Caetano, nesta tarde. Ele publicou nas redes sociais a conversa com o mandatário, que estava no viva-voz.
É a primeira vez que Lula fala publicamente desde que caiu no banheiro do Palácio da Alvorada e bateu a cabeça.
Lula sofreu um acidente doméstico no sábado (19). Segundo aliados, ele caiu no banheiro e bateu a cabeça, mas em nenhum momento teria perdido a consciência. O presidente tem 78 anos.
"Estou bem, querido, eu tive um acidente aqui, mas uma bobagem minha. Foi grave, mas não afetou nem uma parte mais delicada. Eu estou cuidando, porque qualquer coisa na cabeça é muito forte, né?", disse Lula a Caetano.
"Estou aguardando, porque os médicos dizem que eu tenho que esperar pelo menos uns três, quatro dias para eles saberem qual foi o estrago que fez a batida", completou.
Segundo a publicação, o candidato recebeu ligação do presidente nesta segunda, enquanto almoçava. Lula quis saber como estava a eleição e agradeceu pela recepção na semana anterior, quando participou de comício na cidade baiana.
Caetano, que concorre pela quarta vez à prefeitura, teve 49,5% dos votos no primeiro turno contra 49,1% de Flávio Matos (União Brasil).
Em Camaçari, Lula foi recebido na semana passada em um megacomício com uma multidão vestida de vermelho e empunhando bandeiras do PT. Chorou no discurso ao relembrar da própria trajetória, fustigou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e chegou a afirmar que "ninguém foi mais de esquerda do que Jesus Cristo".
No telefonema desta segunda, Lula encerrou a ligação falando do seu acidente, e brincou: "Preciso sobreviver para ir na sua posse".
O Palácio do Planalto divulgou uma nota sobre o atendimento médico no domingo (20), acrescentando que o presidente não viajaria mais para a Rússia, para a cúpula dos Brics. O embarque para a cidade de Kazan seria na noite do mesmo dia.
Nesta segunda, também publicou uma foto de Lula com Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e o assessor especial para assuntos internacionais, Celso Amorim.
A foto mostra Lula agindo com naturalidade, gesticulando durante o encontro. Há preocupação no Planalto de reforçar que o presidente está bem, apesar do acidente.
Lula passa esta segunda-feira (21) no Palácio da Alvorada. Pela manhã, ele recebeu também o chefe de gabinete da Presidência, Marco Aurélio Santana Ribeiro.
À tarde, também teve uma reunião com os ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia), Jorge Messias (Advocacia-Geral da União) e Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência). A pauta é o acordo para a indenização de vítimas e comunidades atingidas pela tragédia de Mariana (MG).
Também foi ao Palácio da Alvorada a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR).
Inicialmente, quando divulgou nota sobre o acidente doméstico, a Secom (Secretaria de Comunicação) informou que Lula despacharia no Planalto nesta semana, mas auxiliares disseram que ele optou por ficar na residência oficial.
"[A equipe médica] vai avaliando ao longo dos dias essa autorização ou não, mas por enquanto a recomendação é que ele está liberado para as atividades, para as reuniões. A opção melhor é poder ficar aqui [no Alvorada], porque você tem as reuniões que ele possa fazer de forma constante", disse Padilha a jornalistas, após reunião com o presidente.
O ministro disse ainda que Lula está "superbem" e sem dores.
Padilha fez questão de ressaltar que o presidente estava ativo e, questionado sobre detalhes do acidente, disse: "O presidente, em nenhum momento, perdeu qualquer tipo de nível de consciência, desorientação. Ele mesmo que, ao cair, procurou fazer o contato com a equipe do Palácio para fazer as ações de primeiros cuidados ali. Então, isso é algo muito positivo em um acidente como esse".
A reunião com Padilha durou cerca de três horas. O ministro disse que Lula deve repetir os exames, pelo protocolo, na terça-feira (22), e que autorizações para viagem dependem da equipe médica.
De acordo com a Secom, Lula deve participar da cúpula dos Brics por videochamada, uma vez que a restrição diz respeito apenas a viagens de longa distância.
As informações relacionadas à saúde do presidente Lula foram sempre tratadas com cautela por seus aliados e interlocutores, de forma a evitar que se estabeleça uma imagem negativa e de fragilidade do mandatário. Ele próprio gosta de brincar que tem "energia de 30, tesão de 20".
"Eu vou viver até os 120 anos, eu vou demorar. Já falei para o homem lá em cima: não estou a fim de ir embora. Preciso disputar umas dez eleições, mais uns 20 anos. O Lula de bengala disputando eleição", disse o presidente, em maio.