Dois agentes penitenciários foram presos sob a acusação de tramar a rebelião que aconteceu na Penitenciária Central do Estado (PCE), em Piraquara, no último dia 14 de janeiro e que resultou na morte de sete pessoas, sendo uma delas confirmada nesta terça-feira (2). O Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) cumpre nesta terça-feira (2) outros nove mandados de prisão contra detentos da PCE, também acusados de envolvimento na rebelião e que foram transferidos para presídios do Paraná e de outros estados.
Entre os agentes envolvidos na trama estão o chefe da segurança, Celso Tadeu do Nascimento, que se apresentou para uma equipe do Cope no centro de Curitiba por volta de 11 horas, e Carlos Carvalho da Silva, subchefe da segurança da penitenciária, detido em sua residência em Pinhais durante cumprimento de mandado de busca e apreensão.
Com eles foram apreendidos documentos e celulares que serão analisados pela polícia. As investigações foram conduzidas pelo Cope, da Polícia Civil do Paraná, que descobriu que o motim foi tramado e incentivado através da colocação de presos rivais jurados de morte numa mesma ala. O objetivo, segundo a polícia, seria forçar a volta dos 20 policiais militares retirados da guarda interna do presídio dias antes.
"Isso está amplamente comprovado pela investigação e por diversas testemunhas sejam agentes, sejam presos. O que é fato, é concreto, é indiscutível é que está comprovado que a rebelião foi causada pela mistura de presos de facções rivais. Isso é estarrecedor já que provocou a morte de seis pessoas e deixou três colegas agentes penitenciários reféns nas mãos dos bandidos. Todos serão indiciados pela prática do crime de homicídio", disse o secretário da Segurança Pública do Paraná, Luiz Fernando Delazari. Segundo ele, a investigação foi acompanhada e chancelada por um promotor de Justiça e também pelo juiz corregedor dos presídios.
O juiz-corregedor dos presídios, Marcio Tokars, que acompanhou as negociações para o fim da rebelião e as investigações comandadas pelo Cope, já havia afirmado logo após o fim do motim que a retirada de 20 policiais militares da guarda interna do presídio não foi o motivo da rebelião. "Foi uma investigação conduzida com muita seriedade e lisura e que foi acompanhada pela Corregedoria dos Presídios desde o início. O resultado só confirma as suspeitas iniciais e demonstra que a polícia fez um excelente trabalho, já que comprova que a rebelião não foi motivada pela saída dos policiais militares", declarou.
De acordo com o relatório de investigação do Cope, a rebelião foi resultado de uma "imprudente" decisão de remover presos rivais para uma mesma galeria, dominada por uma das facções criminosas. Ainda segundo o Cope, os cerca de 20 presos, considerados desafetos, foram remanejados por volta da 17h para as galerias 8 e 10.
Esse remanejamento teria começado a ser articulado no início da semana, quando os agentes teriam instigado cerca de quatro presos do seguro a dominar o presídio. "O mesmo foi feito do outro lado, quando os presos de facções criminosas foram comunicados que seriam mortos pelos presos do seguro. A investigação ainda apontou que a situação foi agravada quando um desses presos do seguro foi escolhido para fazer a distribuição da refeição naquele dia, o que veio a provocar ainda mais os outros detentos. Este preso foi decapitado", explicou o delegado Francisco Caricati, que comanda as investigações.
Ainda em relação às transferências, depoimentos confirmam que foram feitas sem a conivência da maioria dos presos. O inquérito policial ainda aponta que a experiência de mais de 20 anos de agentes penitenciários no presídio lhes daria perfeita condição de saber o que estaria por acontecer com essa transferência, o que reforça a ideia de que o motim resultou de uma "trama muito bem planejada pela chefia de segurança e alguns presos, tendo como premissa maior o retorno de policiais militares ao estabelecimento prisional", conforme traz o relatório.
Em relação às mortes e aos danos ocorridos, o Cope assinala que fizeram parte do planejamento, tendo em vista que algumas vítimas e agressores dispunham de armas e conhecimento sobre o confronto que ocorreria. "Nesse contexto, é de se presumir que os chefes da segurança do presídio protagonizaram o papel de verdadeiros intermediadores de uma arena de gladiadores, o que corresponde dizer que dispuseram meios para ambos os lados se digladiassem, insuflando-os a contenta até a morte", conforme traz o inquérito.
O promotor de justiça da 10ª Vara Criminal, Pedro Carvalho Santos Assinger, designado pelo Ministério Público para acompanhar as negociações e as investigações, disse que concedeu parecer favorável às prisões temporárias e ao cumprimento dos mandados de busca e apreensão, juntamente com a promotoria de Piraquara, baseado em indícios muito fortes de que toda a rebelião foi tramada e articulada pelo chefe e subchefe da segurança do presídio.
"Se a intenção deles era pressionar a volta dos policiais militares fizeram isso da pior forma possível. A transferência foi feita sem a conivência da maioria dos detentos mas as investigações mostraram que era claro para os agentes envolvidos que aquela atitude resultaria em danos como confronto e mortes", disse.
Ainda de acordo com o promotor, as polícias Civil e Militar agiram com muito profissionalismo tanto na negociação como na investigação. "A Polícia Militar demonstrou total domínio da situação nas negociações para o fim da rebelião, e com certeza evitou uma tragédia maior agindo sem efetuar nenhum disparo. As investigações do Cope também foram conduzidas com extremo profissionalismo e seriedade. Agora caberá ao Ministério Público oferecer a denúncia", completou.
FACILITAÇÃO DE FUGA
Além destas prisões, a Delegacia de Piraquara prendeu dez funcionários do Centro de Triagem II, em Piraquara, que trabalhavam como auxiliares de carceragem acusados de facilitar a fuga de dois detentos – um deles transferido recentemente da PCE, envolvido na rebelião e jurado de morte. As fugas e prisões aconteceram no domingo (31). De acordo com Cláudio Stegues, diretor do Centro de Triagem II, as prisões aconteceram porque a perícia constatou que os cadeados não foram estourados, nem celas foram danificadas para que os detentos fugissem.
"Um dos que fugiu foi um preso que envolvido na rebelião serviu de testemunha no inquérito e recebeu a determinação do juiz para que fosse transferido ao CTII e ficasse no seguro. No sábado à noite ele foi colocado no ônibus blindado da polícia, trancado. Mas, no domingo de manhã, ele não estava mais lá e o cadeado estava simplesmente aberto. Todos serão demitidos num processo bastante rápido e simplificado", disse Delazari.
A REBELIÃO
O motim começou na noite de quinta-feira (14), depois que os presos entraram em confronto e fizeram três agentes penitenciários reféns. A Polícia Militar pôs fim à rebelião, sem qualquer tipo de confronto e sem que nem um tiro fosse disparado, por volta das 16h de sexta-feira (15), quando os presos se renderam e libertaram os reféns ilesos. Tudo iniciou quando, na noite do dia 14, agentes penitenciários faziam a inspeção das celas que integravam a galeria 10, destinada a presos pertencentes a facção criminosa.
Os presos das celas 06 a 08 abriram a porta de acesso ao corredor, fazendo os agentes reféns. Em seguida abriram as portas dos presos da mesma facção e foram até as outras celas onde torturam presos transferidos, alguns até a morte. O mesmo aconteceu na galeria 8. No decorrer das investigações constatou-se que os presos tiveram acesso a armas letais como facas, estoques, madeiras, maquitas, dentre outros instrumentos.
Depoimento de um dos agentes penitenciários confirma que a rebelião foi motivada por essa transferência, já que durante negociação ele diz ter sido conduzido pelos presos até a laje da unidade e ditado por eles disse para a imprensa que a culpa da rebelião seria da administração do presídio, pois teria transferido cerca de 20 presos de grupos rivais na mesma galeria. O que reforça esta hipótese é que entre os mortos e feridos, todos haviam acabado de ser transferidos.
Entre os sete mortos estão Daniel Pereira da Silva, Alexandre Carlos Simões, Carlos Alexandre Caetano, Michael Pasa, Orlando Quartaroli, Fernando Damásio e José Carlos Ramos, que estava internado e teve a morte confirmada pelo Cope nesta terça-feira (2). Cinco pessoas morreram no dia da rebelião e outras duas no Complexo Médico Penal de Piraquara e no Hospital do Trabalhador.
Todos os presos por envolvimento na rebelião irão responder por homicídio qualificado, lesões corporais graves e gravíssimas e dano ao patrimônio com violência à pessoa. As investigações continuam e a polícia tem o prazo de 10 dias para concluir o inquérito, que tem 182 páginas.
Acusados de participação na rebelião:
1- Isaac Biberg de Oliveira estava alojado na 10ª galeria à época da rebelião, acusado de ser um dos líderes da rebelião e de auxiliar na execução dos mortos.
2- Geraldo de Jesus estava alojado na 10ª galeria à época da rebelião, e juntamente com o primeiro, é acusado de articular a rebelião e de ser um dos executores;
3- Rosemberg Candido estava alojado na 7ª galeria à época da rebelião. Acusado de articular a rebelião e de auxiliar na execução dos mortos;
4- Ageu Salles estava alojado na 9ª galeria à época da rebelião. Acusado de articular a rebelião e de auxiliar na execução dos mortos;
5- Leandro Costa Nogueira estava alojado na 10ª galeria à época da rebelião. Acusado de articular a rebelião e de auxiliar na execução dos mortos;
6- Agnaldo Silva de Jesus alojado na 10ª galeria à época da rebelião. Acusado de articular a rebelião e de auxiliar na execução dos mortos;
7- Lucas Maiko Streisky, alojado na 8ª galeria à época da rebelião. Acusado de articular a rebelião e auxiliar na execução dos mortos;
8- Lucas Ferreira da Costa ou Rogerio de Paula. Acusado de articular a rebelião e auxiliar na execução dos mortos;
9- Jeferson Roberto Garcia estava alojado na 1ª galeria à época da rebelião, apontado como um dos que auxiliaram no planejamento da remoção dos presos e intermediador entre a chefia do presídio e o preso Daniel, que era da galeria dos presos do seguro e foi instigado a dominar o presídio. Acabou sendo decapitado pelos presos da facção criminosa;
10- Carlos Carvalho da Silva (agente penitenciário), subchefe da segurança da penitenciária e acusado de ser um dos responsáveis pela idealização e execução da trama que culminou na rebelião e execução dos mortos. Acusado de ordenar os remanejamentos dos presos sem que a maioria deles soubesse o que se passava e concordassem com tal medida.
11 - Celso Tadeu do Nascimento (agente penitenciário), chefe da segurança da penitenciária e acusado de ser um dos responsáveis pela idealização e execução da trama que culminou na rebelião e execução dos mortos. Acusado de ordenar os remanejamentos dos presos sem que a maioria deles soubesse o que se passava e concordassem com tal medida. (com Agência Estadual de Notícias)
Notícia atualizada às 21 horas.