A violência tem feito cada vez mais parte do cotidiano das pessoas. Assaltos, acidentes de trânsito, sequestro, violência sexual, são inúmeras as situações vivenciadas pela comunidade. A experiência pode ser traumática e cada pessoa tem uma reação.
Um exemplo é o caso de duas funcionárias de um posto de combustível de Londrina vítimas de assalto. A primeira relata que ao chegar ao trabalho os outros funcionários já haviam sido rendidos. "Um dos bandidos me abordou e falou que era um assalto. Pegaram o dinheiro do caixa, cigarros e meu celular. Eu não reagi e hoje lido bem com isso", garante. "Mas a minha colega pegou um trauma tão grande que treme e por vezes chora ao ver qualquer pessoa com aparência suspeita", acrescenta.
Muitas vezes as pessoas criam mecanismos mentais para tentar seguir em frente. A caixa de uma farmácia ouvida pela reportagem foi assaltada cinco vezes em um período de três anos. "Eu procuro apagar da memória e me concentrar em outras coisas para poder seguir, porque se eu entrar em pânico por cada coisa ruim que acontece em minha vida, eu pararia de viver. Para mim tem funcionado", destaca.
Já um bancário relata que foi rendido por um assaltante quando chegava ao trabalho. Além de ter sido agredido, passou por momentos tensão, já que um dos bandidos ameaçava atirar em um colega. "A sorte é que dispararam o alarme, a polícia chegou e rendeu os bandidos", lembra, ressaltando ter ficado abalado. "Às vezes acordo de madrugada pensando nisso e acabo perdendo o sono."
Segundo ele, esse episódio alterou o seu comportamento. "A gente chega ao trabalho meio temeroso e tenta entrar rapidinho. Nos dias em que a gente vê pessoas estranhas, não entro e ligo para o vigilante."
Muitas vezes essa sensação de medo acontece mesmo quando a pessoa não tem contato com os bandidos. Uma comerciante conta que já sofreu cinco furtos. "Quando você entra e está tudo revirado, não dá para descrever o que a gente sente. O prejuízo é mais moral do que financeiro, porque a gente tem a sensação de que vai acontecer sempre."
Ela ressalta que uma das invasões aconteceu no dia do sepultamento do seu pai. "Colocamos a placa de luto na porta, e os bandidos aproveitaram para arrombar e levar tudo. É muito desgastante. Na hora você cria forças não sei de onde, mas é uma sensação muito horrível", descreve.
TRÊS FASES
O psicólogo Mauro Duarte, professor de psicossomática e psicanálise da Unifil, explica que essas situações de violência e insegurança podem gerar problemas graves em relação ao estresse. E cita que podem acontecer doenças físicas, como problemas de pele; e psíquicas, como depressão e ansiedade crônica.
Segundo Duarte, existem três fases de estresse: alarme, resistência e exaustão. "Toda vez que você é exposto a uma situação traumática, entra em alarme. Seu corpo libera sobretudo adrenalina para te preparar para reagir ou para fugir. Aí você entra em resistência, para conseguir se adaptar ou conseguir fugir. Depois disso, ou a pessoa volta ao nível normal de produção de adrenalina e o corpo se reequilibra; ou, se é uma situação que eu fico impedido de fugir e resistir, de lutar, me mantenho em uma condição de alarme constante. Essa sensação de tensão e estresse constante chamamos de exaustão. O corpo não se adapta. Daí a consequência vai ser a produção de um endo hormônio que se chama cortisol", detalha.
O psicólogo explica que essa produção em alta quantidade de cortisol causa muitos problemas. "As pessoas vão adoecer fisicamente por causa desses excessos da adrenalina ou do cortisol. O grande problema não é o trauma em si, mas a impossibilidade para fugir desse trauma. Se não houver novamente a sensação de segurança e não tiver acompanhamento psicológico, a pessoa não se adapta e acaba tendo doenças ligadas ao estresse, porque não consegue voltar a um estado de homeostase, de equilíbrio", expõe.
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