Paraná

Sobre conteúdo de qualidade e gratuidade

03 jul 2001 às 14:18

Entretenimento, downloads, notícias e sexo. Está mais do que constatado que esses são alguns dos condimentos que mais atraem os usuários para uma saborosa navegação pela web. Mas e a fidelidade? Será que os visitantes de um website são fiéis àquele endereço?

O público interessado em informação variada não costuma ficar preso a um único site – a menos que seja o único player de qualidade no segmento. Constatamos, então, uma poligamia, onde o indivíduo não se prende a um único parceiro, mas sim a vários que lhe proporcionam diversidade e qualidade dentro do assunto que procura. Ou seja, ele gosta de mais de um site sobre determinado assunto!

Diante disso, como no artigo anterior, podemos concluir, o que não é nenhuma novidade, que os hábitos de uma pessoa offline são bem diferentes de quando ela está online. E mais: o modo como ela deve ser atingida pelo marketing são distintos.

Mas o que está certo e o que está errado nisso tudo? Por que a web ainda não encontrou uma fórmula ideal para que seus sites sejam viáveis do ponto de vista financeiro? Ou será que o modelo, por exemplo, dos jornais, que enchem os cadernos com folhas e mais folhas de anúncios que nem sempre agradam ao leitor, é o mais interessante? Afinal, o que está acontecendo?

A internet se encontra em uma fase de transição. Nessa etapa os empresários estão repensando uma série de conceitos e valores que podem não ser condizentes com o mundo capitalista. O fato é que uma vasta gama de serviços realmente profissionais, que exigem equipes altamente qualificadas, muitas vezes não conseguem se manter de forma gratuita para o usuário.

No mundo real, a coisa é diferente. A mentalidade é outra, desde sempre. Ninguém entra em um cinema sem pagar. Ninguém distribui CDs de um artista famoso na rua por questões filantrópicas. Que revista ou jornal de qualidade você pode pegar na banca sem desembolsar alguns reais?

Você pagaria para ler as notícias do seu jornal favorito na web se todos começassem a cobrar por assinatura? Vamos supor que o preço seja mais baixo do que a versão impressa. Será que não vale? Lógico que vale, mas a cultura pregada há alguns anos na internet não permite. Para que pagar por um jornal se você pode digitar algumas letras para ir até o site do concorrente, que não é tão bom, mas quebra o galho? Ou todos se unem para que haja mudança, ou que tudo fique como está.

Será que essa tal poligamia também pode estar influindo na inviabilidade de uma série de modelos de receitas? Talvez. Mas, provavelmente, ela exista muito em função dessa gratuidade que estamos observando no mercado. Ou seja, pague para dar valor. Se os jornais digitais, por exemplo, fossem cobrados, você não assinaria dois ou três diferentes. A poligamia digital é efeito, e não causa.

O jornal que chega à sua casa não contém anúncios diferentes do exemplar do seu vizinho. Mas não seria interessante se tivesse? A web permite customização. Mas possibilidades não são fatos, nem dinheiro. Logo, algo deve mudar para que tais sonhos se realizem. O mercado deve trabalhar questões básicas como estas para poder desenvolver serviços lucrativos, e não apenas serviços de sucesso.

Existe uma tremenda necessidade de mobilização do mercado inteiro para a discussão da situação vigente, em busca de soluções, modelos inteligentes e lucrativos. Mudanças exigem mudanças. Isso significa que deveremos presenciar novidades, não só para quem produz web, mas também para quem consome. Muita cultura deve e precisa mudar.

Quem alguns anos atrás se imaginou pagando para assistir TV? Hoje você paga para ter o direito de ver um determinado pacote de canais. Você paga até para um programa em específico. Será que a web também não tem o seu valor? Não seria justo pagar parar usar alguns bons serviços? É preciso atitude e a certeza de que a internet precisa se valorizar antes para que os usuários a respeitem.

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