Paraná

Ressaca: destruição é retrato do descaso

09 mai 2001 às 11:22

Logo após a última grande ressaca que atingiu a beira-mar de Matinhos, em julho de 1997, engenheiros civis, técnicos especializados em erosão marinha e estabilização de praias alertaram o governo do Estado sobre o risco de destruição de casas e até mesmo de edifícios, caso não fossem realizadas obras de prevenção para contenção das marés. Apesar do alerta, nenhuma obra foi realizada. Ao contrário, a especulação imobiliária continuou desenfreada e as prefeituras, de olho na arrecadação de impostos, investiram em estradas a beira-mar.

Quatro anos depois, pressionados por uma situação de emergência que destruiu 66 casas na madrugada de domingo, com a maior ressaca já ocorrida no litoral paranaense, governo do estado e a prefeitura de Matinhos prometem começar a estudar mais seriamente a possibilidade de realizar obras com soluções mais definitivas para o problema.


De acordo com o secretário Estadual do Meio Ambiente, José Antônio Andreguetto, o governo já tem um projeto pronto para a contenção das águas. Ele acredita que em dois meses seja possível concluir também os Estudos de Impactos Ambientais (EIA) das obras, para depois ir atrás de recursos, estimados em cerca de R$ 8 milhões. "Teremos que buscar recursos em conjunto, envolvendo estado, prefeitura e o governo federal", diz Andreguetto.


O projeto do governo prevê o engordamento da praia, ou seja, a retirada de areia de dentro do mar para colocá-la na praia, com objetivo de conter o avanço da água. A intenção é fazer as obras nas regiões mais atacadas pelas ressacas, em uma extensão de 3 quilômetros no sentido de Matinhos a Praia de Leste e de 1,6 quilômetro de Matinhos a Caiobá. Paralelamente, deve ser feita a desapropriação de áreas à beira-mar, nos locais onde for possível.


"Espero que dessa vez não sejam usadas apenas medidas paliativas", diz o engenheiro civil Marcos Muller, que trabalhou como consultor da Superintendência de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental (Suderhsa) entre 1996 a 1998, para projetos de contenção da erosão e estabilização das praias no Paraná e Santa Catarina.


Muller, assim como o engenheiro civil Eduardo Felga Gobbi, professor do Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Paraná (UFPR), concordam que o engordamento da praia é a melhor técnica. Eles alertam, entretanto, para a necessidade de obras complementares, como a construção de espigões (estruturas perpendiculares feitas com sacos de areia) e constante manutenção do local, com novas cargas de areia.


Segundo Gobbi, a alternativa de engordamento da praia vem sendo utilizada com sucesso em diversos locais. Em Piçarras, no litoral de Santa Catarina, por exemplo, foi aplicada em 1998. Desde então, a praia sofreu poucas alterações, com exceção dos danos da última ressaca.


Flagelados

A prefeitura de Matinhos, Litoral do Estado, começa hoje a procurar uma área adequada para relocar as famílias que tiveram suas casas destruídas pela ressaca ocorrida no último domingo. Os recursos para construção das moradias será liberado pelo governo do Estado. A decisão foi tomada ontem em reunião entre a Prefeitura de Matinhos, secretarias do Abastecimento, Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, Defesa Civil e Casa Militar. No encontro foi estimado que serão necessários pelo menos R$ 10 milhões para recuperar a área atingida e relocar os moradores.


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