Cinco dias após o fim da maior rebelião da história do Estado, a Penitenciária Central do Estado (PCE), em Piraquara, Região Metropolitana de Curitiba, foi aberta à imprensa e aos familiares dos detentos. Além do cenário de destruição em algunas setores, foram descobertos vários túneis, cavados numa tentativa de fuga durante os seis dias de duração do motim, coordenado por integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), organização criminosa nascida nos presídios paulistas e que já se alastrou pelas prisões no Paraná.
Ao contrário do que chegou a se cogitar, e até foi divulgado pela Secretaria de Estado da Segurança, a princípio nenhum preso conseguiu fugir. O diretor do Departamento Penitenciário (Depen), Pedro Marcondes, apresentou ontem a listagem dos presos da PCE e afirmou que nenhum conseguiu fugir pelos túneis construídos. "Os túneis foram todos vistoriados logo após a rebelião e não encontramos ninguém. Tiramos as impressões digitais de todos os internos. Não está faltando preso", garantiu.
A primeira contagem, feita logo após a rebelião, revelou que estariam faltando pelo menos 80 detentos. Na recontagem, feita pela Polícia Militar, foi realizada uma espécie de recadastramento dos presos. Nesse mapeamento, a PM constatou que alguns detentos foram transferidos e outros já estavam em liberdade condicional.
Os únicos detentos que estavam faltando foram os três que morreram durante a rebelião: José Reginaldo Repeck, Marcos Rogério da Silva e Claudiomiro Soares. O total de presos na unidade, atualmente, é de 1.308. Outros 17 foram transferidos, 24 foram para o Complexo Médico Penal (CMP) e outros cinco estão em comarcas distintas do interior do Estado.
Túneis
Em um dos cinco túneis abertos, por menos de cinco metros os internos não conseguiram chegar até a Casa Máxima - que fica do lado de fora da unidade -, onde estavam alojados os repórteres, cinegrafistas e fotógrafos que faziam a cobertura da rebelião. Esse era o maior dos túneis. Foi cavado na enfermaria e tinha dois metros de profundidade e 15 de cumprimento.
De acordo com o soldado Sandro Cardoso, do Batalhão de Polícia de Guarda dos Presídios (BPGD), o túnel só não foi completado porque houve o desabamento de parte da estrutura do solo pouco antes do muro principal. "Quando houve o desabamento, o preso que fazia o túnel veio correndo em direção à recepção. Ele veio pedir ajuda. Disse que foi forçado a fazer o túnel pelos líderes da rebelião e estava prometido de morte", relatou, confirmando que o caso teria ocorrido por volta das 7 horas de segunda-feira (dia 11).
Dentro do presídio, móveis jogados pelos corredores da administração, armários de ferro, serras, cacos de vidro, buracos na paredes, salas lotadas de barro. Toda a área administrativa -incluindo almoxarifado, consultório dentário, cantina e setor de prótese- foi destruída. Enxadas, picaretas e carrinho para a retirada da terra foram conseguidos facilmente dentro do próprio almoxarifado, onde estavam depositados os materiais que foram usados na reconstrução da unidade penitenciária, incendiada em outubro do ano passado, durante outra rebelião.
Nas paredes, as marcas desesperadas dos presos que eram obrigados a fazer os túneis. "Nossa Senhora Maria Bueno, olhai por nós", era uma das inscrições. O PCC também deixou suas marcas pelas paredes com inscrições feitas de terra. Outras inscrições sugerem que um novo grupo surge na penitenciária. Marcas do Primeiro Comando do Paraná (PCP) também se fizeram presentes pelos corredores da unidade, com o slogan: "paz, justiça e liberdade".