Os números divulgados na semana passada pela Fundação Getúlio Vargas no "Mapa do Fim da Fome" só confirmam uma situação já existente no Paraná há quatro anos. Estudo encomendado pela Secretaria de Estado da Criança e Assuntos da Família, em 1997, ao Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) revelou que 70,4% dos municípios do Paraná se encontravam em condições urbanas crítica ou muito crítica. Nesse percentual foram considerados a condição social do morador (renda e grau de escolaridade), moradia (densidade de moradores e canalização interna) e saneamento básico (acesso à água tratada, esgotamento sanitário e coleta de lixo).
Os resultados não agradaram o governo, que tratou de omitir as informações na época. Exemplares do "Mapa da Pobreza do Paraná" - de 231 páginas - chegaram a ser distribuídos para quase todas as prefeituras do Estado, mas boa parte deles foi recolhido.
A pesquisa do Ipardes apontou uma situação de pobreza ainda mais acentuada no meio rural, onde 87,7% dos municípios se enquadraram nas condições crítica e muito crítica (177 deles nesta última condição). Grande parte dos municípios que evidenciaram condições precárias tanto no meio urbano como rural eram dependentes do repasse do Fundo de Participação Municipal (FPM), os que tiveram elevado crescimento da população urbana ou, ainda, os municípios novos.
O "Mapa da Pobreza" revelou que, em 97, os municípios com maior grau de carência do morador e da moradia estavam localizados obliquamente do Norte Pioneiro (Andirá, Jandaia do Sul) ao Centro-Sul do Estado (General Carneiro, Paula Freitas) e Sudoeste (Capitão Leônidas Marques, Prachita). De modo geral, muitos municípios que não apresentam carência na área urbana, apresentam na rural.
Os municípios com melhores condições urbanas, apontou o estudo, encontravam-se nos arredores de Londrina e Maringá e no extremo Oeste do Estado, principalmente os municípios lindeiros a Itaipu. Entre os municípios com condições razoáveis de moradia, morador e de saneamento básico, destacavam-se apenas Cambará, Cornélio Procópio, Curitiba, Londrina, Maringá e Paranavaí. Considerando as mesmas condições no meio rural, somente Curitiba, Maringá e Palotina mereceram destaque.
Para o estudo, o Ipardes usou informações censitárias do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), de 1991, além de dados oficiais da Secretaria de Estado da Saúde e do Instituto de Desenvolvimento Educacional do Paraná (Fundepar). A Folha tentou ouvir um dos técnicos do Ipardes que participaram do trabalho, mas como "o estudo não foi oficializado" ninguém quis comentar o resultado.
As variáveis utilizadas pelo Ipardes no estudo não são as mesmas que a FGV usou para o Mapa do Fim da Fome e, por isso, não podem ser diretamente comparadas. Entretanto, numa análise geral fica claro que a condição de pobreza no Paraná não é um fato recente.