Decepcionado com a seminário Cultura: Arte e Trabalho, que reuniu representantes da classe artístas e da Fundação Cultural de Curitiba no início da semana, o presidente da Associação de Artistas Plásticos e Grafiteiros de Curitiba, Timóteo Borges de Campos, diz que a arte deve ser levada às comunidades carentes e que os artistas estariam discutindo seus próprios interesse em detrimento dos projetos sociais.
Segundo Campos, a surpresa se deu pelo fato de ele esperar que os artistas apresentassem propostas de levar a arte e a cultura até os bairros da periferia e que fosse discutido a gestão social. "Mas ao invés disso, cada artista olhou para o próprio umbigo", reclama.
Os bairros de periferia, e principalmente a Vila das Torres, onde mora o grafiteiro e onde está sediada a sede da associação, não têm qualquer espaço que permita o desenvolvimento artistico das comunidades. "Aqui chamam de arte, só o futebol, por que o único espaço que temos é um campo, com água pelas canelas. Não temos uma casa de apoio, onde pudesse ser oferecido um curso de teatro, de pintura, de música ou de dança. Não temos nada".
Para o grafiteiro e líder da comunidade, os equipamentos da prefeitura estão centralizados na região central da cidade. "As pessoas daqui não se sentem bem entrando num desses ambientes, que são frequentados por uma elite cultural. A classe artística está preocupada em receber dinheiro para seus projetos e exibi-los nos equipamentos que já existem sem preocupação de envolver a comunidade periférica", reclama.
De qualquer forma, Timóteo Borges está esperançoso com a atual gestão da Fundação Cultural de Curitiba. "Há uma promessa de montarmos juntos um projeto para levar cultura aos bairros. E isso já havia antes do seminário. Não surgiu como reivindicação dos artistas", comenta. "Fiquei decepcionado porque acho que os artistas têm força para conseguir que a prefeitura construisse casas de apoio, tanto para a exibição de espetáculos quanto para cursos e oficinas de arte."
O envolvimento com a criação artística tiraria centenas de crianças e adocescentes das ruas. "Aqui no bairro, as crianças brincam no meio dos carrinhos de catadores de papéis. As famílias vivem amontoadas em pequenos cômodos e ainda dividem o pouco espaço com montanhas de papéis. A tensão é constante e a criminalidade também", reforça Timóteo.
Na Vila das Torres vivem cerca de 12 mil pessoas, dessas 40% vivem de catar papel. A Associação de Artistas e Grafiteiros reúne cerca de 70 pessoas, a maioria adolescentes, que usam o grafite como forma de expressar seus anseios e preocupações sociais. "É preciso esclarecer que não somos pichadores, mas grafiteiros", esclarece.
A diferença entre pichação e grafitagem é que a pichação utiliza somente spray e é feita por vândalos, em geral da classe média. O grafite tem cor e o spray é usado somente para contornos. A linguagem do grafite é de reivindicação social. Em geral, são grafitados os muros de escolas, creches e outros equipamentos municipais.