Paraná

Negros comemoram Dia da Consciência

21 nov 2000 às 10:46

Com 15% da população composta por negros - segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - Curitiba ainda registra uma situação de preconceito racial e "esconde" os negros da sociedade. A situação, confirmada nas pesquisas periódicas do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade Federal do Paraná (UFPR), pode estar se revertendo. Quem garante é o presidente da Assembléia Cultural de Negritude e Ação Popular, uma das cinco entidades que formam o Movimento Negro em Curitiba, Jaime Tadeu da Silva. "Os negros estão se impondo na sociedade e hoje é um dia de refletir sobre essa postura", ressalta Silva, se referindo ao Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado ontem.

Para Silva, o fato de a data ter sido desvinculada do dia 13 de maio (abolição da escravatura) no início da década de 80, abriu precedente para discutir o que é "ser negro no Brasil". Ele enfatiza que a população negra não deve mais se apegar ao passado. "Temos que parar de lamentar", completa a jornalista Dulcinéia Novaes.


Na profissão há mais de duas décadas, a jornalista diz que conquistou o seu espaço com muito trabalho, mas admite que já passou por situações constrangedoras por causa da sua cor. "Democracia racial em Curitiba ainda é uma hipocrisia", comenta. Ela ressalta no entanto, que nunca se colocou em posição inferior. "Temos que assumir uma posição de combate e ir à luta. Se impor pelo trabalho e pela postura", aconselha.


O coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da UFPR enfatiza que - apesar das conquistas - Curitiba ainda tem um longo caminho a percorrer para abolir o preconceito. E exemplifica com os monumentos e parques étnicos da cidade. "Temos apenas uma placa alusiva à colônia afro-brasileira, escondida na Praça Santos Andrade. A sociedade não lembra dos negros", lamenta.


Para o sociólogo Ricardo Oliveira a população precisa resgatar a cidadania para abolir o preconceito racial. "O conceito de raça é social. Temos que definir o que é ser negro, já que segundo o IBGE, 59% da população brasileira se encaixa nessa definição". Oliveira comenta ainda que os negros representam uma importante peso na economia brasileira, movimentando cerca de R$ 10 bilhões por ano em produtos específicos, como cosméticos e revistas.

Ainda assim, somente este ano o Movimento Negro de Curitiba já acompanhou seis processos de discriminação racial que tramitam na Justiça. Para coibir o preconceito, o Movimento Negro encaminhou a uma organização não governamental um projeto de criação do SOS Racismo, um sistema de denúncias de preconceito racial por telefone. O sistema ainda não tem data para começar a funcionar.


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