O Ministério Público Estadual do Paraná disse, nesta terça-feira (11), que irá instaurar procedimento investigatório criminal para analisar as imagens de uma professora de redação durante aula em um colégio particular de Ponta Grossa. Ela foi filmada fazendo um gesto semelhante à saudação nazista.
Instantes antes de erguer o braço em direção ao horizonte, a mulher havia prestado continência. É possível ouvir um hino, não identificado, ao fundo. No momento do ato, a docente usava uma bandeira do Brasil presa ao corpo.
O fato será apurado pela 8ª Promotoria de Justiça de Ponta e pela 15ª Promotoria de Justiça, que tem atribuição na área da educação. Em razão da presença de adolescentes, foi imposto sigilo no caso.
Leia mais:
Cinco livros para conhecer obra literária de Dalton Trevisan, morto aos 99 anos
Paraná pode ter 95 colégios dentro do programa Parceiro da Escola a partir de 2025
Arapongas e Cambé alertam para golpe do alvará de funcionamento
Com 1.176 casos de dengue, regional de Londrina lidera registros de dengue no Paraná
O advogado da docente, Alexandre Jorge, negou que sua cliente tenha feito uma saudação nazista. "O posicionamento dela é que não existiu qualquer gesto típico de saudação nazista. Foi no momento de descontração, no encerramento da aula, que, se for se considerar gesto típico de alguma natureza, seria saudação à bandeira e à pátria", escreveu Alexandre Jorge.
Depois da repercussão do caso, o Colégio Sagrada Família, onde ela leciona há duas décadas, repudiou o ato e decidiu demitir a professora. Segundo a escola, a ação foi descuidada, imprudente e um grande erro.
A Confederação Israelita do Brasil (Conib) e a Federação Israelita do Paraná (Feip) também manifestaram repúdio à conduta da professora.
Professora faz saudação nazista em escola de Ponta Grossa pic.twitter.com/01Ap8URqrO
— Julinho Bittencourt (@JotaBittencourt) October 10, 2022
COLÉGIO DECIDE DEMITIR PROFESSORA
Segundo professores da mesma escola ouvidos pela reportagem, a cena ocorreu na sexta-feira (7), durante uma aula para alunos do ensino médio.
A professora foi identificada como Josete Biral. Ela atua na instituição de ensino há quase duas décadas.
A direção do colégio repudiou o ato, o qual classificou como imprudência, descuido e um grande erro da professora, nas palavras da diretora-geral, irmã Edites Bet. Segundo ela, a escola decidiu demitir a profissional.
Procurada no domingo (9), Josete solicitou que a reportagem entrasse em contato com seu advogado. Nesta segunda-feira (10), o advogado da docente, Alexandre Jorge, encaminhou mensagem para a reportagem, na qual negou que sua cliente tenha feito uma saudação nazista.
"O posicionamento dela é que não existiu qualquer gesto típico de saudação nazista. Foi no momento de descontração, no encerramento da aula, que se for se considerar gesto típico de alguma natureza seria saudação à bandeira e à pátria", escreveu Alexandre Jorge.
O advogado ainda citou que qualquer acusação ou imputação contra sua cliente sobre gesto nazista configura fato criminoso.
Um professor relatou para a reportagem que viu o vídeo com muita tristeza e afirmou ser absurda a postura da docente.
Não é a primeira vez que uma atitude da professora chamou a atenção. Às vésperas do primeiro turno das eleições de 2 de outubro, ela foi até a janela de uma das salas e balançou uma bandeira verde e amarela. A ação foi presenciada por vários alunos e gravada. É possível ouvir a alguém dizer "mito", como o presidente Jair Bolsonaro (PL) é chamado, mas não é possível identificar quem gritou.
Professores da escola contaram que a docente tem feito campanha para o candidato Bolsonaro nas dependências da escola. A reportagem recebeu fotos em que a professora aparece com adesivos com o rosto do presidente e outros adesivos com alusão a frases repetidas por ele, como "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos", colados na roupa.
"A escola tem uma posição neutra politicamente junto aos seus alunos e professores. Orientamos aos mestres que procedam com neutralidade e respeito em todas as situações", escreveu a diretora-geral.
Fazer apologia ao nazismo é considerado crime no Brasil, com penas variadas.
Para o advogado e presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, Ariel de Castro Alves, é necessária a abertura de uma apuração sobre o ocorrido.
"O gesto dela, em princípio, faz propaganda do nazismo e trata-se, claramente, de gesticulação nazista. Se tiver relação com a música, pode ser mais associado à propaganda e defesa do nazismo", disse.
"De qualquer forma, ela deveria ser afastada das funções durante as investigações. Os atos dela são incompatíveis com o que se espera de um educador", acrescentou Castro Alves, que também é membro do Instituto Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente.
O advogado lembrou que a suposta tentativa de impor as ideias delas aos estudantes também pode ser passível de punição.
O artigo 232 do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) prevê detenção de seis meses a dois anos por submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento.
Em nota conjunta, a Conib (Confederação Israelita do Brasil) e a Feip (Federação Israelita do Paraná) manifestaram repúdio à conduta da professora. As entidades disseram esperar uma apuração rigorosa dos fatos e punição exemplar à referida profissional.
"O nazismo é um movimento que promove o ódio e a morte e executou o extermínio de 6 milhões de judeus e outras minorias, como ciganos e LGBTQIAP+, durante a Segunda Guerra Mundial. Ele deve ser combatido de forma efetiva, conforme a legislação vigente", encerra o comunicado.