Paraná

HC protesta contra lei que privatiza leitos

10 set 2001 às 15:54

Funcionários do Hospital de Clínicas (HC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) fizeram uma manifestação contra uma proposta de lei apresentada e aprovada no Senado Federal e que destina 25% dos leitos em hospitais universitários para a iniciativa privada. Em tom de tragédia, eles apresentaram uma peça de teatro intitulada "a crise na saúde pública" e que mostrou o caso de uma paciente em estado grave e que não poderia ser internada por falta de vagas no Pronto-Atendimento (P.A.).

"Aqui o atendimento é feito para a população carente. Temos 100% dos leitos destinados para o Sistema Único de Saúde (SUS). Limitar isto seria condenar o carente a deixar de ter atendimento integral num hospital de referência nacional", protestou Maria de Lourdes Fidelis, técnica de laboratório do Hospital de Clínicas desde 1988.


De acordo com ela, a greve realizada pela categoria no ano passado e que durou 96 dias demonstrou que Curitiba não está preparada com infra-estrutura suficiente para atender a demanda de pessoas que necessitam de atendimento emergencial. "Destinar estes leitos para iniciativa privada só poderá gerar injustiça social. Não acreditamos que sejam injetados recursos no hospital com isto. Até agora aguardamos os recursos da CPMF que foi criada para salvar a saúde. Este dinheiro nunca foi aplicado nos hospitais", denunciou ela.


Os funcionários do HC entregaram panfletos para os pacientes que aguardavam atendimento. Eles denunciaram ainda a falta de medicamentos e funcionários. Muitas vezes eles mesmos são obrigados a economizar seus próprios salários para ajudar na compra de sulfato de zinco, corante e material de escritório. "O que existe é um descaso do governo federal. Por isso é que estamos protestando. Queremos que as autoridades nos olhem com carinho", afirmou Maria de Lourdes.


Os pacientes que aguardavam atendimento concordaram com o manifesto. A dona de casa Lourdes de Lima, de 63 anos, disse que os pobres não podem novamente ser os grandes prejudicados por causa da incompetência do governo federal em administrar a saúde pública. O pizzaiolo Elizeu da Costa, 25, afirmou que ele mesmo não poderia ir ao hospital se tivesse que pagar. "Fico me perguntando o que aconteceria comigo", questionou. A dona de casa Sebastiana de Oliveira, 53, foi mais enfática. "A gente está aqui porque não pode pagar por um tratamento mais avançado. Não queremos morrer. Mas não temos dinheiro. Será que o pobre não tem direito à saúde pública", perguntou ela.


Atualmente, o Hospital de Clínicas tem 4,5 mil funcionários. Apenas 3 mil deles são pagos pelo Ministério da Educação (MEC). Os demais são pagos pela Fundação da Universidade Federal do Paraná. O déficit mensal com salários chega a R$ 1,5 milhão. "A destinação de leitos para a iniciativa privada não resolve o problema do hospital. Este não é o momento de se discutir leitos. É momento de se resolver a demanda reprimida de atendimentos no HC que é grande. O que precisamos é que o MEC passe a pagar todos nossos funcionários", destacou Luiz Carlos Sobânia, diretor do HC. Sobânia se colocou contrário à privatização dos leitos.

O Hospital de Clínicas atende mensalmente 80 mil exames laboratoriais, 62 mil consultas, 1,8 mil internações e 800 cirurgias.


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