Uma reunião hoje em Brasília entre a direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e a Ouvidoria Agrária Nacional pode significar a renovação dos contratos das cooperativas de sem-terra com o governo federal. Suspensos desde maio do ano passado, quando surgiram acusações de má-versão de verbas para assentamentos, a renovação desses contratos voltam à mesa, de maneira silenciosa.
De acordo com o ouvidor agrário, Gercino José da Silva Filho, o assunto vai ser posto em discussão no Grupo Permanente de Negociação dos Movimentos Sociais. Silva Filho acredita que há clima para retomar esses contratos, que permitiam pagar técnicos para auxiliar os sem-terras. "Esse é um dos temas da discussão, que abrange negociações de âmbito nacional para a reforma agrária", disse.
A interrupção dos convênios aconteceu depois de denúncias de desvios no Paraná. Na época, cogitou-se que R$ 4 milhões dos recursos foram desviados das mãos dos assentados de seis acampamentos de Nova Laranjeiras, na Região Sul, e de Bituruna, Região Oeste. Nos dois assentamentos vivem 600 trabalhadores ligados ao MST.
As primeiras denúncias sobre desvios de financiamentos por parte da liderança do MST surgiram na Cooperativa dos Trabalhadores Rurais e Reforma Agrária do Centro-Oeste do Paraná (Coagri), situada no município de Nova Laranjeiras. A acusação era que 3% dos recursos era pagos em forma de pedágio, além de supostos descontos na compra de material para os assentamentos. Existe um inquérito que apura o assunto na Polícia Federal.
A cooperativa deveria receber R$ 15,8 milhões para repassar aos assentados. A pressão exercida pela liderança dos sem-terra teria resultado em cobrança ilegal que chega a 3% sobre todos os créditos e a 20% sobre compras em supermercados e no comércio da região sob controle do MST.