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Revoltas ressurgem no berço da Primavera Árabe

08 fev 2013 às 20:54

A cena de dezenas de policiais disparando bombas de gás lacrimogêneo contra jovens tunisianos na avenida Bourghiba nesta semana relembra um que aconteceu no mesmo lugar dois anos atrás.

Até o bordão era o mesmo: "nós queremos a queda do regime!"


O alvo do ódio das multidões pode ser um novo governo, mas muitos deles sentem que seus esforços de 2011 - quando conseguiram remover do poder Zine al-Abidine Ben Ali - podem ter sido em vão.


Muitos estrangeiros, como eu, sempre pensaram que a revolução dos "Jasmins" da Tunísia tinha grande chance de dar certo, de construir uma nova e vibrante democracia - uma oportunidade muito mais promissora do que ocorreu em todas as revoltas árabes subsequentes.


A Tunísia tem uma sociedade civil forte e ativa, onde todos frequentam a escola até, no mínino, 16 anos de idade. O francês é falado na maioria das grandes cidades.


Após a eleição de uma Assembleia Constituinte, o partido vencedor Ennahda - embora aliado da Irmandade Muçulmana - prometeu uma abordagem inclusiva e adotou diversos elementos liberais em sua administração interina.


Mas, como no Egito, tunisianos liberais estão descobrindo que não é tão fácil conquistar a democracia.


Salafistas encorajados


O assassinato recente do político esquerdista secular Chokri Belaid pode ter sido um choque para a maioria dos tunisianos, mas o clima de tensão subjacente já estava espalhado pelo país há meses.


Belaid, de certa maneira um socialista à moda antiga, era também um grande oponente da coalizão governista do Ennahda.


Apesar do Ennahda retratar seu governo como moderado e tolerante, seus críticos dizem que nos meses mais recentes o partido deixou grupos muçulmanos ultra conservadores, os Salafistas, imporem suas opiniões em áreas que sempre foram consideradas bastiões do secularismo.


Os salafistas interromperam concertos musicais e exposições de arte, saquearam a embaixada americana (aparentemente uma represália a um filme que retratou o profeta Maomé de forma negativa) e protestaram de forma violenta em universidades.


Um dia antes de ser baleado quatro vezes quando saía do trabalho, Belaid alertou que havia um clima de violência sistemática varrendo o país e ameaçando as conquistas da revolução.


Seu assassinato "priva a Tunísia de uma de suas mais livres e corajosas vozes", segundo o presidente francês François Hollande.


Seu funeral na sexta-feira, no centro de Túnis, foi um evento que deixou emoções à flor da pele. Membros do governo foram avisados para se manterem longe.


Encruzilhadas


Apesar dos líderes políticos terem afirmado que trabalharão por um governo de união, formado por tecnocratas, até a realização de novas eleições, mais problemas são esperados nas principais cidades tunisianas nos próximos dias.


Este país de 11 milhões de pessoas está novamente em uma encruzilhada.


A situação da economia, que se baseia especialmente em mercados voláteis, como o de turismo, apavora a todos.


Investidores estrangeiros - em particular de companhias francesas - continuam a basear seus negócios aqui, o que é crucial para o futuro do país. Mas, se eles fossem se assustar pela instabilidade política, esses sinais positivos que vimos há dois anos atrás já teriam começado a desaparecer.


O cenário político atual do país está em rápida deterioração.


Nas últimas 24 horas foram divulgadas notícias de que saques e distúrbios se espalharam por diversas cidades, incluindo Sfax.


Jovens provavelmente não alinhados ideologicamente nem com os islâmicos e tampouco com a oposição estão demonstrando sua raiva e sua insatisfação.


Porém, o fato de milhares de cidadãos - jovens e velhos, homens e mulheres - darem tanta importância para o assassinato de um político liberal também funciona como uma mensagem.


Esses tunisianos estão desesperados para evitar o caos polarizado que flagela outros países da região, particularmente o Egito.

Muitos tunisianos estão orgulhosos do fato da Tunísia ter sido o berço da Primavera Árabe, mas também estão determinados a fazer com que não seja o local onde a revolução acabará prematuramente.


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