O Escritório de Investigações e Análise para Aviação Civil (BEA, na sigla em francês) divulgou nesta sexta-feira (29), com duas horas de antecedência, um dos relatórios mais completos sobre as causas do acidente com o voo AF 447. As principais conclusões são que realmente houve falha nos sensores de velocidade da aeronave e interpretação incorreta dos dados pelos dois copilotos que estavam na cabine, o que levou à condução errada do avião.
De acordo com o documento, a falha nos sensores de velocidade provocaram o desligamento do sistema eletrônico de navegação da aeronave, como apontava o relatório anterior, divulgado em maio. Em seguida, os dois copilotos que estavam na cabine de comando (o comandante havia saído para descansar) não conseguiram identificar e discutir o alarme de que o avião estava em perda de sustentação (estol), o que fez com que a aeronave caísse no Oceano Atlântico em 2009.
Essas falhas de pilotagem, diz o BEA, podem ser atribuídas a falta de treinamento para situação de risco a qual os pilotos estavam submetidos. Com isso, a agência fez novas recomendações sobre treinamento de tripulação, assim como de novas maneiras de registro do que ocorre dentro das aeronaves.
Com base nas análises mais detalhadas das caixas-pretas, os investigadores confirmaram o que já havia sido informado no relatório anterior: que os pilotos responderam ao alarme de perda de sustentação elevando o bico da aeronave em vez de baixá-lo para recuperar a estabilidade - algo que intrigou especialistas na época em que saíram os dados preliminares do acidente. Não ficou claro, porém, o motivo de os pilotos terem agido dessa forma.
Além disso, ao perceberem que a aeronave estava com perda de velocidade, mesmo com índices incoerentes por causa do congelamento dos tubos do pitot, os pilotos não adotaram o procedimento chamado de "IAS questionável", quando a leitura velocidade apresentada pelo sistema não é confiável. Segundo o relatório, nenhum dos dois tinham passado por treinamento recente para pilotagem manual ou qualquer conhecimento em altas altitudes para caso de erro de leitura de velocidade.
Durante todo o período crítico, não houve evidências que mostrasse a divisão de tarefas entre os dois copilotos. Ainda de acordo com o relatório, em nenhum momento a equipe de pilotagem comunicou os passageiros sobre os problemas enfrentados durante o voo.
Dessa forma o relatório do BEA, indica 26 meses após o acidente que uma conjunção de fatores reunindo a Airbus-Thales e a Air France teria sido decisiva pra o desastre que causou a morte de 228 pessoas.
Recomendações. Devido a essas falhas, o BEA lançou um relatório com novas recomendações sobre o treinamento de pilotagem manual de aeronaves - o que segundo críticos da área, foi corroído com as novas tecnologias.
Também se pede neste documento que sejam formados critérios adicionais para a divisão de tarefas entre os copilotos quando o comandante não estiver na cabine.