Na lista de personalidades que discursaram na manifestação desta quarta (3) contra a ultradireita em Paris, havia um cidadão franco-brasileiro: Raí Souza Vieira de Oliveira.
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"O que a extrema direita faz melhor é mentir!", discursou o ex-jogador do São Paulo e do Paris Saint-Germain, em francês fluente. "Eu a conheci no poder. No Brasil, vivemos um pesadelo. Quatro anos de misoginia, de homofobia, de preconceito, milhares de mortos."
Jogadores da seleção francesa falam contra avanço da ultradireita no país Ultradireita vence 1º turno na França, e projeção indica maior bancada no Parlamento Raí, 59, cidadão francês desde 2016, tem se pronunciado cada vez mais em questões políticas na França. Este ano, completou um mestrado executivo em políticas públicas em Sciences Po, a faculdade de maior prestígio do país. Entre os ex-alunos da instituição está o atual presidente da França, Emmanuel Macron.
Se depender da ultradireita, talvez Raí não possa usar esse diploma em território francês: uma das propostas da Reunião Nacional (RN), partido favorito na eleição legislativa do próximo domingo (7), é barrar a quem tem dupla nacionalidade o acesso a cargos públicos considerados estratégicos.
No primeiro turno, no domingo (30), o partido foi o mais votado. Seus 33% permitem projetar entre 230 e 280 das 577 cadeiras da Assembleia Nacional, perto da maioria absoluta (289). Hoje a RN tem 88 deputados.
Em segundo lugar ficou a Nova Frente Popular (NFP), coalizão de esquerda, com 28% e, por ora, uma projeção de 150 a 180 cadeiras. Atualmente os partidos do bloco de esquerda somam 150 deputados.
Derrotada por Macron no segundo turno das eleições presidenciais de 2017 e 2022, Marine Le Pen, do RN, lidera as pesquisas para o pleito de 2027. Neste domingo, foi reeleita deputada já no primeiro turno.
Raí falou à Folha de S.Paulo minutos antes de subir ao palanque para discursar.
PERGUNTA - Por que se manifestar na França, neste momento?
RAÍ - A importância é gigante, porque a França é muito simbólica, por tudo o que representa, os direitos humanos... e os movimentos de extrema direita são globais. Então os progressistas, a gente, que é de esquerda, humanista, tem que se juntar também a essa manifestação. É um momento crítico no mundo, e os franceses sempre souberam se mobilizar, principalmente quando toca a questão da República, os direitos humanos, a democracia, a liberdade. Esta manifestação com certeza vai ser linda e importante para a eleição no próximo fim de semana.
Seu irmão, Sócrates, estaria aqui?
RAÍ - Ele está aqui. Está aqui comigo. O Brasil viveu a ditadura, viveu o Bolsonaro. A França já viveu várias guerras, mas há muito tempo vive em plena democracia, e isso tá em risco agora. Então o meu irmão, que lutou tanto pela redemocratização do Brasil, está aqui comigo hoje, com certeza, toda a nossa família, para lutar pela liberdade, não só da França, mas do planeta.
Como veio o convite?
RAÍ - O pessoal reconhece, soube da minha luta contra o Bolsonaro e a favor da democracia na época das eleições [no Brasil, em 2022]. E por meu histórico aqui, da importância de ser um representante internacional, com dupla nacionalidade. Brasileiro, mas também francês, pelo que eu vivi aqui. Eu me senti legítimo para esse convite, mas também muito lisonjeado. Me sinto cumprindo meu dever como cidadão.
A extrema direita francesa propôs que pessoas com dupla nacionalidade, como você, não exerçam certos cargos públicos.
RAÍ - Essa é uma parte da minha fala aqui. Aqui é o país dos franceses, mas de todas as cores também. Temos que buscar soluções, mas sem colocar em risco os direitos fundamentais.
Sendo brasileiro e agora cidadão francês, estar presente aqui é importante também para a política brasileira?
RAÍ - É importante para o mundo. A gente vê que os movimentos de extrema direita estão se juntando. Têm algo pensado, a mesma estratégia, que é a da mentira, de usar as redes sociais para as fake news, contra a ciência, contra a cultura, contra a educação, buscar o caos para que eles usufruam do poder em detrimento da saúde social do mundo inteiro. Não existem mais fronteiras, temos que pensar as soluções em conjunto.
Uma vitória da ultradireita aqui seria ruim para o Brasil?
RAÍ - Seria péssimo para o mundo e para o Brasil. Temos eleições nos EUA e em outros países, e a gente vê um movimento que é perigoso e que tem que ter uma resistência, acima de tudo.