Depois de um dia inteiro de compromissos com o presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad e de quase uma hora de conversa com o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou à noite deste domingo, em Teerã, sem poder anunciar o fim do impasse entre o Irã e a Agência Internacional de Energia Nuclear (AIEA), das Nações Unidas, que exige a abertura das instalações nucleares do Irã a inspetores internacionais. A tentativa de mediação de Lula é vista como última chance de o governo iraniano evitar novas sanções econômicas ao país.
Lula e Ahmadinejad se encontraram de manhã no Palácio Presidencial, com a presença dos chanceleres dos dois países. A entrevista coletiva que dariam em seguida foi cancelada por decisão do presidente brasileiro, que não queria falar com a imprensa sem ter algo concreto para anunciar. Há dois dias, Lula disse em Moscou que avaliava em 99,9% as chances de sucesso de sua missão. Às 21h, ao sair do hotel Steghlal para jantar com Ahmadinejad, Lula disse apenas que o nível de otimismo aumentou.
Após o encontro com Ahmadinejad, Lula almoçou com o aiatolá Khamenei. Segundo a agência de notícias Irna, do governo iraniano, o líder supremo elogiou o Brasil por ter adotado posturas independentes "ao negociar com as politicas arrogantes dos Estados Unidos nos últimos anos". Sobre as negociações em torno do programa nuclear iraniano, nenhuma palavra.
Lula também visitou Ali Larijanio, presidente da Assembleia Consultiva Islâmica, onde, novamente evitou o contato com a imprensa. No fim da tarde, os presidentes dos dois países encerraram o 14º Encontro Empresarial Brasil-Irã. No principal centro de convenções de Teerã, trocaram promessas de cooperação econômica duradoura, com incentivo ao comércio exterior e à troca de tecnologia. O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, não participou do evento porque passou o dia inteiro envolvido nas negociações com autoridades iranianas em torno da questão nuclear.
No discurso aos empresários, o presidente do Irã se referiu a Lula como "amigo e irmão". Fez muitas críticas à ordem econômica mundial, aos países ricos, ao sistema financeiro e às bolsas de valores. "Nossa aproximação assegurará a segurança e a paz mundial", disse Ahmadinejad, para quem a economia capitalista está chegando ao fim do caminho. Lula, segundo Ahmadinejad, "tem credibilidade para corrigir a ordem prevalente no mundo". O presidente do Irã não fez qualquer menção ao principal motivo da visita de Lula ao Ira, a tentativa de acordo com a AIEA sobre a questão nuclear.
Lula preferiu centrar o discurso no potencial da parceria econômica entre os dois países. Ressaltou a necessidade de o Hemisfério Sul diversificar o comércio e reduzir a dependência das vendas para os países ricos. Disse que o Brasil está disposto a ajudar o Irã a aumentar sua independência alimentar com pesquisas na produção rural. Anunciou a abertura de uma linha de crédito de 1 bilhão para a exportação de alimentos do Brasil para o Irã. "Não faz sentido que os negócios de nossas empresas dependam apenas de bancos estrangeiros", disse Lula.
Lula participa amanhã (17) da sessão de abertura da 14ª Cúpula do G15, grupo formado por países não alinhados. A expectativa é de que só então sejam anunciados os resultados de suas gestões junto ao presidente do Irã sobre a questão nuclear. As conversas tiveram como base a proposta da AIEA para que o Irã aceite trocar urânio enriquecido a 3,5% no país islâmico por combustível nuclear, o urânio enriquecido a 20%. A França surge como o mais provável fornecedor desse combustível. Com esse nível de enriquecimento, o urânio não teria condições de ser usado na fabricação de bombas atômicas.
No início da tarde, Lula embarca para a Espanha. O último compromisso do presidente brasileiro neste domingo em Teerã foi o jantar com Ahmadinejad. Lula deixou o hotel Steghlal às 21h, sem se encontrar com o diretor geral do Conselho de Segurança Nacional do Irã e principal negociador do programa nuclear, Said Jalili, como esperavam os jornalistas que acompanham a viagem do presidente brasileiros. O ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim, que integra a comitiva, disse que Jalili esteve no encontro ampliado de Lula com Ahmadinejad pela manhã, mas evitou fazer comentários sobre as negociações. Ao ouvir dos repórteres que estavam todos "agoniados" com a falta de noticias, Nelson Jobim resumiu o ânimo da comitiva presidencial: "Eu também".