Um mito está alimentando um crime hediondo no sul da África. Diz o seguinte: se alguém quiser ter sucesso no trabalho ou quiser se curar da Aids, precisa ter relações sexuais com uma menor de idade ou com uma de suas filhas.
O resultado: um aumento no número de casos de estupro de crianças, particularmente na Zâmbia, um país de 10 milhões de habitantes.
Cerca de 20 por cento dos adultos do país estão contaminados com o vírus HIV. Aproximadamente 22 milhões de pessoas em todo o sul da África são portadores do vírus.
Quase diariamente, jornais da Zâmbia publicam reportagens sobre o estupro de crianças.
O vice-presidente do país, Nevers Mumba, diz que o crime tornou-se um problema sério, com mais de 400 casos registrados entre janeiro e junho deste ano. Em 2002, no mesmo período, o país registrou 238 casos.
Alguns culpam os curandeiros tradicionais, para os quais a maior parte da população apela em busca de conselhos sobre problemas de saúde, já que poucos têm dinheiro para pagar um médico.
Segundo a conselheira para crianças vítimas de abuso junto à Associação Cristã de Moças (YWCA) em Lusaka (capital da Zâmbia), Ireen Nkuna, a YWCA teve contato com 110 casos de crianças estupradas entre janeiro e setembro deste ano. "Uma vez, tivemos o caso de um pai que estuprou a filha de 1 ano e meio", disse.
Nkunda disse que, segundo um estudo, os homens abusam de crianças após visitarem curandeiros que os aconselham a ter relações sexuais com uma filha ou com uma parente jovem a fim de aumentar suas chances de sucesso profissional.
Em setembro, a história de uma garota de 11 anos que morreu após ter sido estuprada várias vezes por um meio-irmão chocou o país.
Rodwell Vongo, chefe da Associação de Curandeiros Tradicionais da Zâmbia, nega que seus integrantes estejam fazendo qualquer coisa de errado.
Brenda Muntemba, porta-voz da polícia, responsabilizou as "leis brandas" da Zâmbia pelo aumento dos casos de estupro.
A maior parte dos condenados recebem penas de três meses a cinco anos de prisão, algo considerado insuficiente por advogados que defendem crianças.
Fonte: iG, parceiro do Bonde