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Mineiros terão dificuldades para voltar à 'vida normal'

14 out 2010 às 10:45

Primeiro vem a euforia – o grande alívio, a emoção de reencontrar a família, a comemoração de um resgate bem-sucedido.

Depois da festa, porém, os 33 mineiros resgatados na mina de San José, no norte do Chile, terão de enfrentar o retorno à vida diária, que terá inevitavelmente mudado para sempre.


Por mais de dois meses, os homens viveram no subsolo a quase 700 metros de profundidade, no interior da mina. Os primeiros chegaram à superfície após uma tensa viagem de 20 minutos dentro de uma minúscula cápsula, e se depararam com a emoção das famílias e os olhos da mídia.


Psicólogos dizem que internalizar a experiência será um desafio. Alguns podem sofrer estresse pós-traumático na tentativa de se reajustar à vida comum.


Para o professor de psicologia da University College London, James Thompson, "o puro alívio e a alegria de sair deve tomá-los pelas próximas semanas". Depois disso, ele alerta, podem chegar a depressão e outros sintomas.


"Pode ser que as lembranças do evento ainda causem insônia, pode ser que o sono seja problemático, pode ser que eles se peguem pensando no acontecimento muito, muito frequentemente", afirma Thompson.


"Certas coisas vão desencadear as lembranças do evento – sensações, cheiros, o cheiro da terra ou o ruído da broca. Eles ficarão surpresos ao descobrir que, mesmo tendo saído de dentro da mina, ainda se sentirão fisicamente nela."


Para o psicólogo, "se eles tiverem tido uma forte impressão de que morreriam, haverá uma enorme tensão emocional".


Cerca de um terço das pessoas que passam por traumas graves manifestam efeitos psicológicos. Mas entre os profissionais que trabalham em situações de emergência essa proporção cai para 5%.


Thompson crê que, como os mineiros já são acostumados a situações difíceis, a proporção dos que devem passar por dificuldades no futuro deve ficar entre essas duas.


Se os homens têm se mostrado alegres e joviais em frente às câmeras, a intensidade da experiência transparece nas cartas que eles escreveram para as suas famílias.

"Este inferno está me matando", escreveu o eletricista de 48 anos Victor Segovia. "Tento ser forte mas, quando durmo, de repente sonho que estou em um forno, e quando acordo me encontro nesta escuridão eterna."


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