Milhares de pessoas foram às ruas neste sábado (14) em várias cidades da França em apoio à Gisèle Pelicot, cujo ex-marido é acusado de tê-la dopado para que fosse estuprada por dezenas de homens durante uma década. Manifestantes seguravam cartazes com os dizeres "Todas somos Gisèle".
A mulher de 72 anos despertou uma onda de apoio às vítimas de estupro e de agressões sexuais ao aceitar que seu processo em tramitação na Justiça fosse público. Nos bancos dos réus estão o ex-marido e 50 homens que a teriam estuprado enquanto estava inconsciente. O caso chocou o país e ganhou projeção internacional.
Mais de mil pessoas se reuniram na Praça da República, em Paris. Os participantes do ato na capital francesa entoaram gritos como "Você não está mais sozinha" e "Estuprador, te vemos; vítima, acreditamos em você".
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Em Marselha, no sul do país, os manifestantes penduraram um cartaz no Palácio da Justiça com a mensagem: "Para que a vergonha mude de lado". Mais de mil pessoas participaram do ato , segundo autoridades locais.
Rennes, cidade no oeste do país, também teve atos em apoio à Gisèle. Participaram das manifestações de 200 a 400 pessoas, segundo estimativas oficiais.
Os manifestantes pediram que o tema deixe de ser considerado um tabu e que o caso leve a sociedade e os poderes públicos a agir.
Dominique Pelicot, de 71 anos, é acusado de dopar repetidamente sua esposa e permitir que estranhos a estuprassem ao longo de uma década. Ele foi preso em 2020, quando foi flagrado em um shopping filmando as partes íntimas de uma mulher, por baixo de sua saia.
Nos dias que se seguiram à prisão, os investigadores encontraram em seus computadores cerca de 4.000 fotos e vídeos de sua esposa inconsciente e sendo estuprada por dezenas de homens.
Ainda segundo a polícia, o marido da vítima fazia a mulher ingerir um ansiolítico forte antes dos estupros. Ele orientava os outros homens, encontrados em um site de relacionamento e também réus no caso, para que não a acordassem.
O julgamento do ex-marido da vítima e dos 50 acusados começou no dia 2 de setembro em Avignon, no sul da França, e deve seguir até dezembro. Gisèle se tornou um símbolo da luta na França contra a violência sexual.
Os promotores disseram que Dominique oferecia sexo com sua esposa em um site e filmava os abusos. Em caso de condenação, cada um dos homens acusados, que têm idades entre 26 e 74 anos, pode receber penas de até 20 anos de prisão.
Os investigadores identificaram ao menos 92 estupros desde 2011. Os crimes ficaram mais frequentes a partir de 2013, quando o casal se mudou para Mazan, e ocorreram até 2020.
A advogada de Dominique, Beatrice Zavarro, afirmou à imprensa francesa que ele admitiu os crimes. Alguns dos outros réus também admitiram culpa, enquanto outros disseram acreditar que Gisele Pelicot fingia estar dormindo e que era uma participante consentida, de acordo com a mídia francesa.
De acordo com seus advogados, Gisèle abriu mão do julgamento privado para alertar o público sobre abuso sexual e perdas de memória induzidas por drogas.
Acusado, Dominique deveria depor nesta semana, mas foi dispensado devido a problemas de saúde. Se ele estiver apto, a expectativa é que deponha na segunda-feira (16).
As manifestações tiveram a presença predominante de mulheres. "Requer muita coragem da parte dela, mas era fundamental", afirmou Jusstine Imbert, 34, que participou da manifestação em Marselha com sua filha de seis anos.
"Este julgamento midiático fará com que se fale sobre o assunto. Também conscientizará", disse Martine Ragon, aposentada de 74 anos que foi às ruas em Marselha.
"Quando li a história, senti nojo, até mesmo nojo de ser um homem [...] Espero que haja uma verdadeira condenação, um verdadeiro exemplo", disse Stéphane Boufferet, 26, trabalhador do setor agrícola, em entrevista à AFP em Clermont-Ferrand, durante ato com cerca de 200 pessoas, na região central do país.