A Associação de Entidades Jornalísticas Argentinas (Adepa), que reúne a maioria das empresas privadas de mídia do país, alertou na sexta-feira, 7, para "as sombras que nos últimos anos pairam sobre a liberdade de imprensa na Argentina, que adquirem novas e perigosas formas". Em seu relatório anual, a entidade diz que o país caminha no rumo da "consagração de um discurso único e o enfraquecimento da crítica e da divergência como elementos centrais do sistema democrático".
A Adepa sustenta que, embora os jornalistas argentinos "formalmente possam dizer o que pensam, quem faz isso fica exposto à represália e à perseguição". Nos últimos anos associações jornalísticas reclamaram de grampos telefônicos aos jornalistas, redução drástica (ou eliminação completa) da publicidade oficial aos meios de comunicação não alinhados com a presidente Cristina Kirchner, piquetes de sindicatos aliados do governo nas portas das gráficas dos jornais para impedir a saída de exemplares (com a omissão da Polícia), além de blitze sem justificativas da Afip, a Receita Federal argentina. Organizações sociais vinculadas à presidente realizaram "tribunais populares" com simulacros de julgamentos de jornalistas não alinhados com o governo.
Enquanto os meios de comunicação críticos do governo sofrem pressões, diversos empresários aliados da administração Kirchner adquirem canais de TV, jornais e rádios. Além disso, o governo conta com uma ampla rede de comunicação estatal. Com ironia, a oposição denomina o conjunto desses grupos amigos e próprios de "o amigopólio".
A deputada Patrícia Bullrich, da Coalizão Cívica, de oposição, sustentou que "o Poder Executivo está avançando, como uma mancha de óleo, sobre todos os meios de comunicação independentes para integrá-los em seu exército midiático que reproduz de forma regular e sistemática a palavra oficial".
O governo da presidente Cristina Kirchner está retomando os movimentos no Congresso Nacional para, nos próximos meses, aprovar um projeto de lei elaborado no ano passado que declara que a produção, distribuição e comercialização de papel de jornal seja declarado de "interesse público". O projeto, da autoria do partido de centro-esquerda Livres do Sul, contou com o respaldo enfático da presidente Cristina.
Em 2010, os partidos da oposição conseguiram brecar a aprovação do projeto. No entanto, perante a possibilidade de o governo conseguir uma confortável maioria no Parlamento nas eleições presidenciais e parlamentares do dia 23 de outubro, desta vez o projeto promete ser aprovado.
A nova lei atingiria a única empresa de papel do país, a "Papel Prensa", que é controlada pelo jornal Clarín (49% das ações), o La Nación (22%) e o Estado argentino (27,5%), além de sócios minoritários. O projeto determina que empresas de jornais impressos não poderão ter ações da "Papel Prensa".
Segundo a oposição, o governo planeja uma "estatização encoberta" da produção de papel.