As transmissões da Radio Caracas Televisión (RCTV) terminam à meia-noite deste domingo (27), pondo fim a uma emissora que fez história na Venezuela, mas cometeu o erro de desafiar o presidente Hugo Chávez.
Em seu último dia no ar, a RCTV apresenta um resumo de seus 53 anos, com a participação de atores, animadores, jornalistas e técnicos, que aparecem diante de uma bandeira da Venezuela e não poupam críticas ao presidente venezuelano, que qualifica o canal de golpista.
Milhares de venezuelanos protestaram contra o fechamento da RTCV com um "panelaço" que começou na madrugada deste domingo, no centro de Caracas, e se estendeu inclusive aos bairros populares, tradicionalmente fiéis a Chávez.
Os manifestantes se reuniram durante a noite em várias praças de Caracas, enquanto outros circulavam de carro ou de moto pelas ruas para denunciar o fechamento da RCTV.
Chávez planeja organizar uma contra-manifestação para comemorar o lançamento da nova "televisão socialista" (TVES), financiada pelo Estado, que vai ocupar o sinal e utilizar os equipamentos da RCTV.
O presidente, que acusa a RCTV de ter apoiado o golpe de Estado contra ele em 2002, se manteve firme na decisão de não renovar a concessão do canal, apesar dos protestos internos e externos.
O presidente montou um importante esquema de segurança para enfrentar os protestos, que inclui centenas de blindados da Força Nacional e até civis voluntários.
Segundo pesquisas, mais de 70% dos venezuelanos reprovam o fechamento da RCTV, um canal muito popular por seus programas, novelas e jornalismo.
O proprietário da RCTV, Marcel Granier, ainda acreditava neste domingo em um recuo de Chávez: Não perco a esperança antes da meia-noite, creio que reagirá com sensatez, por que está cometendo muitos atropelos que geram graves conseqüências. Ainda tem a oportunidade de corrigir o erro".
No sábado, ao confirmar o fim da concessão à RCTV, Chávez advertiu a oposição para não se aproveitar do fato: "Faço um apelo ao país para que ninguém caia em provocações para que nenhum grupo se preste a criar o caos".
Os protestos têm o apoio dos partidos de oposição Um Novo Tempo (UNT) e Primeiro Justiça (PJ), mas mobilizam jornalistas, artistas, militantes de diversos grupos e, principalmente, os espectadores da RCTV, incluindo eleitores de Chávez.
A justiça venezuelana deu o tiro de misericórdia na RCTV na noite de sexta-feira, ao decidir entregar toda sua infra-estrutura ao novo canal estatal, a TVES, para garantir uma cobertura nacional e qualidade de transmissão.
Chávez justificou a medida ao afirmar que "os donos da rede de televisão privada tinham um plano para sabotar o sinal do novo canal".
Paralelamente, a Comissão Nacional de Telecomunicações (Conatel) renovou a concessão, na sexta-feira, da principal concorrente da RCTV, a Venevisión, do magnata Gustavo Cisneros, que amenizou seus ataques à Chávez desde a reeleição do presidente, em 2006.