O Itamaraty confirmou na tarde desta quinta-feira (16) que recebeu das autoridades de Honduras a confirmação de que um brasileiro está entre os mortos no presídio de Comayagu.
O indêncio, que deixou mais de 350 mortos, é o pior já registrado em um presídio latino-americano. Ainda não se sabe o que provocou o incidente, que teve início na noite de terça-feira.
O Itamaraty não divulga a identidade da vítima e diz que está tentando entrar em contato com a família.
Havia 800 detentos no presídio no momento do incêndio. A prisão de Comayagua tem capacidade para 400 pessoas.
Segundo o enviado da BBC Mundo a Comayagu, ainda há cadáveres aguardando transporte ao IML local por soldados hondurenhos e norte-americanos.
Também circulam por ali peritos forenses e membros da Cruz Vermelha, além de bombeiros que não têm mais fogo a apagar, vendedores de comida para os militares, eletricistas que revisam a fiação do edifício e policiais que guardam a entrada do local onde, exceto os parentes dos detentos, muitos podem entrar sem despertar grandes suspeitas.
Cerca de 400 sobreviventes do incêndio continuam dentro do que sobrou do edifício, em tendas de campanha, dormindo a apenas alguns metros dos corpos de seus companheiros mortos.
O ministro da Segurança de Honduras, Pompello Bonilla, reconheceu, em entrevista à BBC Mundo, que por enquanto há poucas alternativas para realojá-los; o sistema penitenciário do país centro-americano está colapsado.
"Somos um país pobre. E nos últimos anos têm aumentado o crime organizado e o narcotráfico. Isso impediu que déssemos uma resposta cabal ao tema" da superlotação dos presídios, disse Bonilla.
Superlotação
A mãe de um dos detentos que sobreviveram ao incêndio reclama da superlotação relatada pelo filho.
Como outros parentes de presos, ela estava diante da porta do presídio, onde reina um clima de desconfiança e resignação.
"Onde estão as chaves das celas que não abriram?", grita desesperada outra mulher diante de uma fileira de policiais.
O incêndio no presídio evidenciou as carências em protocolos de emergência, e alguns presos disseram que ninguém destrancou suas celas quando as chamas chegaram, que as saídas estavam bloqueadas e que, para escapar, tiveram que derrubar paredes.
Na quarta-feira, o presidente de Honduras, Porfirio Lobo, prometeu uma investigação para apurar as responsabilidades pela tragédia de terça e removeu os funcionários responsáveis pela administração carcerária.
Reforma
Em 2003 e 2004, houve registros de incêndios fatais nas cidades de Ceiba e San Pedro Sula. Mas, como ocorre também em outros países da região, o sistema penitenciário hondurenho ficou à mercê de gangues criminosas que operam por trás das grades.
Agora, o país debate uma reforma drástica no setor, incluindo a possibilidade de privatizar os presídios ou oferecer suas concessões à iniciativa privada, disse à BBC Mundo o ministro de Obras Públicas, Miguel Rodrigo Pastor.
Enquanto isso, diante do presídio, pessoas continuavam se aglomerando em busca de informações ou lançando gritos contra as autoridades; muitas pessoas choram ainda sem saber se seus parentes estão entre os sobreviventes.
Outros como Sulla Padilla, com uma vela em mãos, estão em luto. Ela perdeu seus dois irmãos - um passou quatro anos no presídio; outro estava ali havia sete meses.
"É ilógico que eles estivessem nessa situação. São seres humanos, ainda que tenham cometido seus erros. Têm direito a viver", disse Padilla.
Ao ler a frase que paira sobre a porta do presídio - "Faça-se a Justiça, ainda que o mundo pereça" -, ela se queixa. "Sabemos que não vai acontecer nada", afirma.