O Brasil enfrentará em médio prazo "uma maior agressividade das manifestações do clima", algumas das quais já estão ocorrendo, e não está preparado para isso, opina o agrônomo, pesquisador e chefe-geral da Embrapa Monitoramento por Satélite, Evaristo Eduardo de Miranda. Em entrevista à Agência Brasil, concedida para falar sobre conferência da ONU no Quênia sobre mudanças climáticas, Miranda falou sobre o possível cenário de mudanças climáticas, que é estudado por pesquisadores brasileiros.
"De forma geral, estas mudanças se caracterizarão por um contraste climático maior. Ou seja, chuvas mais intensas, períodos secos mais prolongados, uma maior agressividade das manifestações do clima". O ecologista explicou que não haveria aumento da incidência das chuvas ou das secas ao longo do ano, mas sim da sua intensidade. "Nós vamos ter a ocorrência maior de períodos extremos, quer dizer, grandes chuvas – inclusive, com a ocorrência de vendavais e furacões, sobretudo no sul do país."
Na opinião do pesquisador, o país ainda não está preparado para enfrentar estas novas situações "até porque elas são completamente inéditas". Algumas dessas manifestações já começaram. Segundo Miranda, o código de obras brasileiro não previa, por exemplo, ventos com a intensidade que tem sido constatada em algumas localidades ultimamente. O resultado é a destruição de construções, de torres de transmissão de eletricidade ou de sistemas de telefonia móvel. "As estruturas construídas não previam esta intensidade de ventos e por aí vai. Nós não estamos preparados, nós estamos começando a nos preparar para isso".
Entre os eventos recentes que ilustram as expectativas e previsões de Miranda, houve o "furação" Catarina, ocorrido em março de 2004 na região Sul, o primeiro ciclone de grande intensidade de que se teve notícia no Atlântico Sul, a estiagem na Amazônia, no ano passado, mensurada como a maior em 50 anos, e a seca no Rio Grande do Sul, também em 2005, que atingiu mais de 80% dos municípios gaúchos e gerou milhões de reais em perdas aos produtores.
Para Miranda, o Brasil pode dar duas contribuições significativas para frear o aquecimento global: reduzir suas emissões de gases do efeito-estufa, ou seja, combater o desmatamento e as queimadas na Floresta Amazônica, e desenvolver combustíveis alternativos, com álcool e óleos vegetais combustíveis, a chamada agroenergia.
Miranda acredita que o Tratado de Quioto é uma iniciativa fundamental. "Ele é um acordo que foi obtido com uma expressiva participação mundial. É difícil você conseguir imaginar no momento uma outra iniciativa de dimensão planetária que possa ser articulada fora do Protocolo de Quioto. E este encontro na África será importante, pois vai permitir consolidar os dados e dar um bom panorama do quanto nós avançamos e do quanto falta avançar ainda".
Agência Brasil