A partir de 2004 o consumidor pode ter mais um modelo de automóvel no mercado no que diz respeito ao combustível. Depois da gasolina, do álcool, dos carros movidos a gás natural veicular (GNV) e dos automóveis "flex fuel", que podem ser abastecidos tanto a gasolina como a álcool, será a vez dos veículos "trifuel" ou tricombustíveis, que poderão ser movidos a gasolina, álcool e GNV.
Ainda em desenvolvimento pela empresa Bosch, este novo conceito une a tecnologia flex fuel brasileira (gasolina/álcool) e a bifuel (que usa gasolina ou gás), criada na Alemanha.
Segundo Sidney Oliveira, gerente de Desenvolvimento de Produtos da multinacional, o sistema trifuel conta com softwares para um melhor gerenciamento do motor e bicos injetores capazes de trabalhar de forma eficaz com os três combustíveis diferentes, permitindo ao carro um desempenho uniforme, independentemente do combustível utilizado.
A expectativa da empresa é ter o primeiro carro-conceito trifuel no início de 2004 para apresentar às montadoras. E se os fabricantes de veículos aprovarem a tecnologia, os primeiros modelos de série poderão ser lançados até o fim de 2005 - pois será necessário desenvolver sistemas trifuel específicos para cada carro, de acordo com o motor e carroceria.
Para tirar o melhor proveito das diferentes características dos três combustíveis, inicialmente a tecnologia trifuel deve ser oferecida em automóveis turbo, cujo compressor permitiria alterar virtualmente a taxa de compressão do motor e manter o bom desempenho do veículo. De acordo com estudos da Bosch na Europa, em um motor a gasolina aspirado de 100 CV a potência cai para 90 CV com GNV. Mas ao adotar o turbo pode chegar a uma potência de 150 CV.
A queda de potência num carro aspirado e a gás natural ocorre porque - ao mesmo tempo que o GNV tem um alto grau de octanas (132) - ele rouba espaço dentro do motor, diminuindo o espaço do ar necessário para a combustão. O turbo, por sua vez, permite a compressão do gás e uma maior injeção de ar na câmara de combustão, elevando virtualmente a taxa de compressão e tirando do GNV toda a sua potência.
Oliveira conta que o turbo em um carro trifuel deve funcionar a 1 bar de pressão com o GNV, gerando um ganho de potência de até 50% em comparação à gasolina. Para garantir a injeção precisa de GNV, o veículo com essa tecnologia inédita ainda seria equipado com um injetor exclusivo para este combustível.
Ele revela ainda que a empresa estuda oferecer o trifuel em carros aspirados. O custo, é claro, seria mais baixo, mas em compensação, o desempenho do automóvel ficaria um pouco comprometido. Entretanto, garante Oliveira, seria melhor do que o oferecido hoje pelos veículos convertidos em GNV em oficinas (a queda da potência é, no mínimo, de 15%).
Como no caso da tecnologia "flex fuel", a trifuel será oferecida pela Bosch apenas para as montadoras. Ou seja, os carros sairiam de fábrica com o sistema. Para usar GNV num carro trifuel, o motorista terá que mudar a posição da chave comutadora (instalada no painel) de gasolina/álcool para GNV. Com isso, o carro deixará de consumir a mistura de álcool e gasolina e passará a usar apenas o gás natural veicular armazenado no cilindro.